terça-feira, março 19, 2013

Bartolomeu I presente na entronização de Francisco I

O patriarca ortodoxo grego Bartolomeu I, presente nesta terça-feira no Vaticano, onde acompanhou a entronização do papa Francisco, indicou que sua presença na missa inaugural do Sumo Pontífice era um momento histórico desde o cisma entre as duas Igrejas, em 1054.

"Nem mesmo antes do cima de 1054 houve a presença de um patriarca de Constantinopla na entronização de um Papa", indicou o monsenhor Bartolomeu a um canal de televisão turco. Esta declaração foi veiculada pelos meios de comunicação gregos.

"Isto não aconteceu nem antes, nem depois de 1054", destacou o chefe espiritual dos ortodoxos. "Este gesto quer mostrar a importância que atribuo às relações amistosas entre as duas Igrejas", acrescentou Bartolomeu.

Na época do anúncio da renúncia do papa Bento XVI, monsenhor Bartolomeu manifestou sua tristeza e o saudou como um amigo da Igreja do Oriente.

Fonte: Terra

NOTA: Por este gesto o Patriarca reconheceu o bispo de Roma como líder superior - um gesto pra lá de ecumênico...

segunda-feira, março 18, 2013

Vaticano espera 150 delegações para entronização do papa

A administração do Vaticano está esperando a chegada de 150 delegações com autoridades de todo o mundo que vão assistir a entronização do novo líder da Igreja Católica, o Papa Francisco. Além da presença em peso de chefes de Estado da América Latina - incluindo a presidente argentina, Cristina Kirchner, e a brasileira, Dilma Rousseff - a cerimônia contará com a presença do vice-presidente americano, Joe Biden, da chanceler alemã, Angela Merkel, do presidente de Taiwan, Ma Ying-jeou, e do polêmico Robert Mugabe, presidente do Zimbábue e acusado de uma série de crimes contras os direitos humanos.

Cristina e Dilma desembarcaram no domingo em Roma. A chefe do Executivo foi a primeira a encontrar o Pontífice, em uma reunião iniciada às 12h50 (8h50m no horário de Brasília). Ela disse que ficou emocionada, pois nunca havia sido beijada por um Papa. Francisco, de naturalidade argentina, tem um passado de tensões com o governo da presidente. Os dois divergem em inúmeras questões, como a reforma agrária no país, legalização do casamento gay e do aborto.
Também estão confirmados para a cerimônia de entronização os presidentes Federico Franco, do Paraguai; Enrique Peña Nieto, do México; Sebastián Piñera, do Chile; Porfirio Lobo, de Honduras; Laura Chinchilla, da Costa Rica; e mesmo Rafael Correa, do Equador, que volta e meia se desentende com a Igreja. Todos são países de maioria católica.

Dilma deve ter um tempo maior, pois em sua presença deve ser evocada a Jornada Mundial da Juventude. Na manhã desta segunda-feira, a brasileira disse que espera que o Papa “respeite a opção de cada um” em seu pontificado e mostrou estar contente com a eleição de um líder católico brasileiro. A presidente foi recebida com flores em Roma e o seu encontro com o Francisco é um dos mais aguardados, segundo a mídia italiana.

Já a presença de Robert Mugabe, do Zimbábue, não é tão bem vista pela mídia local. O presidente africano é acusado violações aos direitos humanos e de uma péssima administração econômica de seu país. Mugabe é alvo de um banimento de viagens de membros da União Europeia, mas isso não o impede de ir ao Vaticano ao a reuniões das Nações Unidas.

O vice-presidente americano, Joe Biden, chegou a Itália nesta segunda-feira para participar da entronização do Papa Francisco, marcada para a terça-feira. Ele foi recebido pelo primeiro-ministro italiano, Mario Monti, e seguiu para encontrar o presidente do país, Giorgio Napolitano, no palácio Quirinale. Biden é católico e deve ter um encontro privado com o Pontífice amanhã.

Fonte: O Globo 

NOTA: Roma está restaurando seu poder a passos largos, e a ferida mortal de 1798 está quase completamente curada para a infelicidade do mundo. A quantidade de chefes de Estado presentes na entronização de Francisco só vem confirmar mais uma vez a profecia: "com quem se prostituíram os reis da terra" (Ap 17:2).

quarta-feira, março 13, 2013

Eleito primeiro papa jesuíta: Francisco I

O cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio, 76, arcebispo de Buenos Aires, é o primeiro papa latino-americano da história. É também a primeira vez que o cargo é entregue a um membro da Sociedade de Jesus.

Fonte: Folha de São Paulo 

NOTA: É um bom momento para se relembrar os objetivos, estratégias e lema dos jesuítas (leia aqui).

terça-feira, março 12, 2013

Questões políticas em jogo no conclave

Num cenário político bizantino, os 115 cardeais entram nesta terça-feira, 12, para o conclave profundamente polarizados, divididos e irão às urnas em uma eleição aberta. Fontes próximas aos cardeais confirmaram ao [jornal] Estado que existem pelo menos quatro grupos atuando nos bastidores para que suas visões prevaleçam. Mas todos admitem que, ao contrário do conclave de 2005, não há um franco favorito. De um lado, dois grupos que se apresentam como espécies de partidos da situação, enquanto outros dois clamam por maior transparência, maior eficiência na gerência da Igreja e uma espécie de modernização na gestão pontifícia.

"Não há um debate sobre doutrina ou sobre fé", indicou um assessor de um cardeal de peso no Vaticano. "A Igreja hoje está falando com a mesma voz no que se refere à religião. É sua administração que está dividindo os cardeais", acrescentou.

Mas, para observadores em Roma, com o elemento religioso fora da campanha, é mesmo a disputa política que ganhará espaço de honra na Capela Sistina. Ontem, no último dia de reuniões, o número de cardeais que pediu para falar sobre o que esperavam do próximo papa era tão grande que nem todos puderam fazer suas intervenções.

Parte deles deixou claro que considerava que o debate deveria continuar. Mas a Cúria deu por encerradas as discussões. Assessores admitiram que isso era um sinal de que nem tudo está resolvido e que o pleito está aberto.

"No último conclave, havia um homem com uma estatura três ou quatro vezes maior que a dos demais cardeais", disse o cardeal francês Philippe Barbarin, em referência a Joseph Ratzinger. "Desta vez não é o caso. A escolha terá de ser feita entre um, dois, três, quatro, uma dúzia de candidatos", insistiu. "Não sabemos ainda de nada. Vamos ver o que sairá da primeira votação."

Primária. Nos últimos dias, Roma foi tomada por reuniões secretas de diferentes grupos, mobilizando forças para justamente permitir que seus candidatos descubram hoje se têm ou não apoio suficiente para continuar na batalha. Na tarde de hoje, a primeira votação servirá como uma espécie de primária. Diante da proliferação de nomes que podem atrair votos, quem não se sair bem na primeira votação será na prática eliminado.

Não por acaso, a meta dos grupos ontem era o de costurar os últimos apoios para garantir a sobrevivência de seus candidatos para os próximos dias.

Um dos grupos de maior peso é o que poderia ser chamado de "pró-Cúria", com o apoio de alguns dos principais príncipes do Vaticano que já estavam no poder durante a gestão do secretário de Estado, Tarcisio Bertone. O grupo, porém, queimado diante dos escândalos e da própria renúncia de Bento XVI, foi obrigado a buscar nomes de fora para atrair eleitores.

Um deles é de d. Odilo Scherer, afinado com as posições da Cúria. Ele atenderia a dois critérios: é o homem de confiança de um grupo no poder e, ao mesmo tempo, renovaria a imagem da Igreja ao se tornar o primeiro papa de fora da Europa em 1,3 mil anos. Jornais italianos apontam que o brasileiro já poderia ter numa primeira votação entre 20 e 30 votos.

Mas nem o grupo do establishment da Igreja estaria unido. Parte dele, liderado pelo secretário de Estado, Tarcisio Bertone, defende a volta de um italiano para o comando da Santa Sé, depois de mais de 30 anos nas mãos de "estrangeiros". Um dos nomes seria o de Giancarlo Ravasi, o poderoso ministro da Cultura da Santa Sé. Mas não se descarta que o arcebispo do Sri Lanka, Malcolm Ranjith, possa ser uma alternativa se não houver uma sintonia entre os italianos.

Do outro lado está a oposição que clama por uma reforma da administração e uma nova imagem de maior transparência na Igreja. O problema, segundo fontes no Vaticano, é que o único ponto em comum é o desejo de derrubar o grupo no poder. "Não há um nome único da oposição que atraia a atenção de todos", disse uma fonte.

Ironicamente, o representante da oposição considerado como tendo maiores chances é um antigo aliado de Bento XVI, o poderoso arcebispo de Milão, Angelo Scola. Antes de renunciar, o papa chegou a dar sinais de que Scola seria seu candidato. Ele tem o apoio de outros cardeais italianos - mas nem todos.

"Scola é moderno, mas não progressista", insistia ontem Marco Politi, vaticanista italiano, cada vez que alguém tentava rotular Scola como um reformista. Mas parte da delegação americana também estaria inclinada a votar nele, desde que adote posições claras pró-transparência. Jornais italianos chegaram a apontar que o arcebispo de Milão poderia somar até 40 votos já na primeira rodada de votação.

Até a tarde de ontem, a prioridade de seu grupo de apoio era o de atrair o voto de cardeais independentes e descontentes com a atual Cúria. O problema é que nem todos estão convencidos de que Scola representaria de fato uma renovação da Igreja e que adotaria medidas drásticas de reformas.

Não por acaso, grupos debateram nos últimos dias nomes alternativos de oposição. São pessoas que não se alinham com o grupo pró-Cúria e nem com Scola. Mas ainda assim teriam o apoio de vários descontentes.

A lista, neste caso, é ampla e iria desde o canadense Marc Ouellet, passando pelo ganense Peter Turkson, os cardeais americanos Sean O'Malley e Timothy Dolan, o filipino Luis Antonio Tagle, o húngaro Péter Erdo e mesmo o brasileiro João Aviz. "A Cúria precisa de uma revolução", declarou o cardeal alemão Walter Kasper. "Precisamos de reforma e transparência", disse.

Já o canadense Marc Ouellet poderia ainda ser um dos nomes fortes, representante de uma espécie de compromisso entre os diversos campos. Para ser eleito, o novo papa terá de acumular 77 votos, o que pode não ser uma tarefa simples diante das divisões. Se houver um impasse entre os grupos e se as votações se repetirem sem um claro avanço de um dos candidatos, cardeais poderão chegar à conclusão de que terão de abandonar seus preferidos para buscar um nome de consenso. O canadense, não por acaso, é visto como um dos favoritos justamente por fazer a ponte entre os grupos.

Fonte: Estadão

domingo, março 10, 2013

Ordens e movimentos religiosos fazem lobby no conclave

Elas são discretas, raramente se apresentam em bloco e fazem questão de declarar que não atuam de forma política. Mas no conclave que começa nesta semana e mesmo nos últimos dias, ordens religiosas, congregações, movimentos laicos e grupos nos bastidores mobilizaram seus lobbies para eleger o próximo papa e contrabalançar eventuais solidariedades nacionais. Na terça-feira, os 115 cardeais entrarão para um dos conclaves mais delicados da história recente do Vaticano, com uma Cúria dividida e mais italiana que nunca nos últimos 55 anos.

Segundo o Estado apurou, as ordens religiosas e os principais movimentos que atuam na Igreja passaram as últimas semanas em uma frenética negociação sobre nomes e apoios a seus candidatos. "A constatação de todos é a mesma: uma nacionalidade ou mesmo um continente já não elege ninguém", afirmou uma fonte na Santa Sé. "Para que haja um novo papa, a pessoa terá de ganhar apoios transversais e apenas movimentos religiosos podem fazer essa ponte", indicou.

No conclave de 2005, que elegeu Joseph Ratzinger como papa, 53 nacionalidades estavam representadas. Agora, são 50 e, entre os eleitores, o peso dos europeus cresceu. Em 2005, 58 cardeais eram europeus, 49% do total. Os latino-americanos somavam 18% (21 cardeais), contra 12% da América do Norte, 9% da África e 9% da Ásia.

Desta vez, o peso europeu subiu e hoje 52% dos eleitores são do Velho Continente, graças a uma ação premeditada de Bento XVI para dar prioridade à Europa. A proporção de italianos é a maior desde 1958 - com 24% dos votos e oito cardeais a mais que em 2005. Já o peso dos latino-americanos caiu para 16% em 2013. A transformação foi resultado das próprias nomeações feitas por Bento XVI, que colocou na cúpula da Igreja 57% dos cardeais que vão eleger o seu sucessor.

Pilares. Fontes do Vaticano apontam que, se a imprensa está mais preocupada com a nacionalidade dos cardeais, na Santa Sé é a filiação ou simpatias que cada grupo demonstra que mais pesa nas conversas mais privadas. "A imprensa está tentando ver o Vaticano com os olhos de Copa do Mundo. Mas a realidade é que a lógica é diferente dentro da Santa Sé", declarou o cardeal argentino Estanislau Karlik.

No total, 16% dos eleitores fazem parte de alguma ordem religiosa, sem contar os grupos semilaicos. Mas é o poder que esses movimentos têm que poderia decidir uma votação. O cardeal chileno Errazuriz Ossa afirmou que rejeita a tese de que cardeais do mesmo grupo estejam inclinados a apoiar um nome do movimento ao qual estão ligados. "Não é com essa mentalidade que entramos no conclave", disse.

Mas a declaração se contrasta com a realidade de Roma dos últimos dias. Segundo um levantamento obtido pelo Estado, quatro cardeais são da congregação dos salesianos, incluindo Tarcisio Bertone, secretário de Estado do Vaticano, que não teria poupado seu poder para influenciar seu grupo a seguir uma determinada linha nos votos.

Os franciscanos contam com a adesão declarada do cardeal Carlos Amigo Vallejo, arcebispo emérito de Sevilha, do brasileiro Claudio Hummes e do sul-africano Wilfrid Napier.

Já os dominicanos estão sendo liderados pelo cardeal austríaco Christoph Schonborn, enquanto não faltam os representantes dos jesuítas (o argentino Jorge María Bergoglio), os lazaristas, os redentoristas, os capuchinhos (como no caso do americano Sean O'Malley), ou os membros do Instituto de Schönstatt, da qual faz parte o cardeal chileno Errazuriz Ossa.

Se as ordens religiosas atuam dentro do Vaticano de uma forma quase institucional, existem ainda movimentos, associações e prelazias que entraram com força na campanha nos últimos dias, fora dos muros da Santa Sé. O colégio de eleitores inclui o Opus Dei (representado pelo cardeal peruano Cipriani Thorne) e o Movimento dos Focolares, com o brasileiro d. João Braz de Aviz à frente.

O próprio fortalecimento de d. Odilo Scherer teria uma relação direta com um movimento chamado Arautos do Evangelho. Segundo a revista Panorama, parte do crescimento do d. Odilo se deve ao movimento, que teria ajudado a alavancar seu nome.

Mas é justamente o favoritismo de um dos cardeais, o italiano Angelo Scola, que mais escancarou como grupos estariam agindo de uma forma bem mais relevante que o critério de nacionalidade. Scola é historicamente ligado ao movimento Comunhão e Libertação, que por anos manteve amplo controle nas finanças e ações da elite econômica italiana mais conservadora.

Publicamente, Scola tentou se afastar do grupo, depois que investigações na Itália apontaram para o nome de vários de seus membros em crimes financeiros. Mas, tanto no conclave de 2005 como no atual, o italiano não economizou esforços para convencer os demais eleitores sobre seus poderes na sociedade, enquanto a própria instituição disparou telefonemas e campanhas discretas em seu apoio.

A movimentação desses grupos tem sido tão grande que até o porta-voz da Santa Sé, Federico Lombardi, acusou-os de tentarem desestabilizar o Vaticano às vésperas do conclave. O recado não era direcionado aos jornais, e sim aos cardeais que estão de olho na vaga de Bento XVI e delegaram a esses grupos o lançamento de suas candidaturas.

Fonte: Estadão