sábado, abril 19, 2008
O papa verde
17 de abril de 2008
Pode ser conhecido por soltar sinais de fumaça quando um novo papa é eleito, mas o Vaticano é atualmente o único estado soberano do mundo que pode reivindicar ser carbono-neutro. Isso significa que todas as emissões de gases de efeito estufa da Santa Sé são compensadas com as energias renováveis e os créditos de carbono.
No verão passado os antigos edifícios da cidade-estado foram equipados com painéis solares, que pretendem ser uma fonte chave de eletricidade, e uma empresa de eco-restauração doou árvores suficientes em um parque nacional húngaro para anular todo o carbono emitido da Cidade do Vaticano, num total de cerca de 320 m2.
Ambos os movimentos foram abraçados pelo papa Bento XVI, que não somente cuida da igreja global, mas também serve como administrador-chefe de operação do Vaticano. E tanto em círculos religiosos quanto seculares Bento XVI ganhou o título de "Papa verde"; Além dos esforços para tornar a cidade do Vaticano mais ambientalmente eficiente, ele igualmente usa a doutrina católico romana para emfatizar a responsabilidade humana de cuidar do planeta.
Bento XVI não é o primeiro papa a abordar a questão da degradação ambiental. Seu antecessor, João Paulo II, certa vez descreveu as preocupações ambientais como uma " questão moral"; e observou desde 1990 que as pessoas têm "uma grave responsabilidade de preservar a ordem da terra para o bem estar das futuras gerações." Entretanto, o novo pontífice tem feito do verde uma parte central de seus ensinos e da elaboração de políticas. Poucos meses depois de ter sido eleito papa, Bento XVI afirmou na sua primeira homilia como pontífice que "os tesouros da terra têm servido aos poderes de exploração e destruição" e apelou aos católicos para ser melhores mordomos da criação de Deus. Na primavera passada no Vaticano, em uma conferência dedicada às mudanças climáticas, Bento XVI anunciou que os cidadãos do mundo têm que "focar as necessidades de um desenvolvimento sustentável." Essa mensagem foi levada um pouco mais longe quando a igreja no mês passado anunciou sete novos pecados que agora requerem arrependimento. O número quatro na lista foi "poluição ambiental." Entre outros como "provocar injustiça social" e "tornar-se excessivamente rico", ambos os quais também são ligados a cuidar da terra, diz um porta-voz do Vaticano.
Bento XVI não pode ser um típico ambientalista no sentido moderno secular. O Vaticano não vai dizer se ele tenta economizar gasolina em seu próprio solo ou se usa dispositivos como lâmpadas econômicas de energia. Para ele a questão verde parece ser mais sobre ser um mordomo da criação de Deus. Falando aos fiéis, ele salienta que cuidar da terra fala diretamente para proteger o que a Bíblia diz que foi criado em Gênesis.
Ele também fez uma ligação entre o modo como um estilo de vida verde enquadra-se na responsabilidade de proteger as comunidades mais pobres do mundo, que muitas vezes são os primeiros a sentir os efeitos ecológicos de uma mudança climática, como inundações ou secas, o que pode gerar conflitos sobre os recursos naturais. "Quando você tem uma questão recebendo tanta atenção, há um grande número de vozes falando sobre isso. Bento XVI sabe disso e quer um lugar à mesa", diz Lucia Silecchia, professora de direito social da Universidade Católica, que publicou um documento no ano passado intitulado: "Identificando as Perspectivas Ambientais do Papa Bento XVI." "Ele viu isso como uma maneira de impulsionar os valores da Igreja em um novo contexto".
Raymond Arroyo, diretor de notícias da Eternal Word Television Network (EWTN), [NOTA: Rede de Televisão Católica norte-americana], (e um colaborador ocasional da NEWSWEEK), acredita que o papa vê a consciência ambiental como um elo para a doutrina católica e os ensinamentos sociais, sobretudo o valor da vida. "Ele está mantendo a sua mensagem sobre a terra coerente com as outras mensagens. Ele ouve o que as pessoas estão dizendo, 'Este é um grande problema.' E ele está dizendo, 'Você está certo, mas o sofrimento das crianças nestas partes do mundo também é um grande problema.' É tudo o mesmo argumento. Eu não acho que ele ame a terra como uma questão em si mesma, mas a vê como uma coisa entre muitas que o Criador concebeu. Ele só está destacando-a".
Não surpreendentemente, então, entre as soluções, Bento XVI propõe igualmente o valor da vida humana acima de qualquer outra coisa. Em um discurso numa audiência na Praça de São Pedro, em 2005, ele reivindicou que os seres humanos são "as únicas de todas as criaturas desta terra que podem estabelecer uma relação livre e consciente com seu Criador". Em outras palavras, diz Silecchia, não é provável que o Vaticano se volte a soluções ambientais centradas na redução da população humana ou na limitação da utilização dos recursos da terra para apoiar a subsistência humana.
Até agora, o papa não tem enfatizado questões ecológicas durante sua visita aos EUA. Todavia, isso poderá mudar quando ele dirigir-se à Assembleia Geral das Nações Unidas, na sexta-feira. Como ele fará isso é suposição de qualquer um, mas as probabilidades são de que ele não vá censurar os dirigentes governamentais pela falta de ação ou prioridades erradas. Em vez disso é esperado ele usar o púlpito para sublinhar o efeito da mudança climática global sobre os recursos e, com efeito, o que poderia significar um ecossistema instável para a paz, o equilíbrio e o futuro do mundo. É um argumento abrangente que o papa verde parece singularmente qualificado para fazer.
(Online)
NOTA: A sagacidade de Roma é digna de nota. Usando de argumentos morais (alguns deles corretos por sinal), o bispo de Roma, assume o papel de "defensor da Terra e dos pobres" (não que isso em si seja errado), e com sedutoras palavras tem conseguido enfeitiçar até mesmo a maior nação protestante do mundo - baluarte da liberdade religiosa. Concordo com o chefe da Igreja Católica que o cuidado da Terra é uma questão de mordomia cristã. Porém, pelo fato de Roma só multiplicar suas palavras, mas não ter mudado em nada sua essência, é um grande perigo os EUA (e o mundo todo) conceder ao bispo de Roma tão grande destaque em sua política. Sem dúvida, isso acabará por influenciar os EUA a querer copiar o modelo de Igreja/Estado que Roma adotou desde seus primórdios e mantém até hoje, o que, na prática, seria um desastroso retorno à Idade Média, com direito até ao ressurgimento da Inquisição. Com o título de "papa verde", parece que não há mais dúvida de que também tornou-se líder do ECOmenismo.
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