As mulheres que vêem telenovelas [no Brasil] têm menos bebês (mas mais homens)? The Economist.
Um artigo publicado na edição desta semana da revista britânica The Economist afirma que as novelas da TV Globo podem ter exercido uma influência positiva nos hábitos e comportamentos dos brasileiros.
Intitulado Soaps, sex and sociology ("Novelas, sexo e sociologia", em tradução livre), o artigo cita um estudo publicado recentemente pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) que sugere que as telenovelas exerceram influência sobre a fertilidade e o número de divórcios no Brasil nas últimas décadas.
Segundo o estudo, a chegada do sinal da TV Globo em determinadas regiões estaria associada a um declínio de 0,6 ponto percentual na possibilidade de uma mulher ter filhos em um determinado ano. Além disso, de acordo com a pesquisa, o advento do sinal da Globo também estaria associado a um aumento de 0,1 a 0,2 ponto percentual na parcela de mulheres entre 15 e 49 anos que se divorciaram.
Divórcios e baixos índices de natalidade, de acordo com outros estudos, estariam ligados a menos casos de violência doméstica.
Baseando-se na pesquisa, a Economist afirma que o fato de a Globo mostrar em suas novelas uma realidade bem diferente da vivida pela maioria dos brasileiros - "com famílias menores e mais ricas que a média" -, teria estimulado modificações nestes dois importantes indicadores sociais.
A revista ainda afirma que as telenovelas surgiram durante o regime militar no Brasil e que as vendas de aparelhos de TV foram estimuladas pela ditadura "para construir um senso de nação em um país grande e majoritariamente analfabeto".
Mas, segundo a publicação, muitos dos diretores e autores dos programas eram de esquerda, e enxergaram nas telenovelas "um meio de atingir as massas".
"As tramas normalmente se inclinam para uma direção progressista: a Aids é discutida, camisinhas são promovidas e a mobilidade social exemplificada".
Afirmando que a influência das novelas pode ser mais positiva do que dizem seus críticos, a revista ainda brinca:
"Se a Globo pudesse lançar agora uma novela sedutora sobre reforma tributária, sua transformação do Brasil estaria completa".
Fonte: BBC Brasil
NOTA: Dois pontos bem diferentes. Que a teledramaturgia tem um poder de influência inigualável para vender produtos, hábitos e ideologias não há dúvida. Porém, daí concluir que menos filhos e mais divórcios (o texto original diz: "mais homens") é um algo para se comemorar, depende muito da cosmovisão adotada. Certamente não compartilho desta visão. Interessante é que quando a Globo tentou abrir mercado na Europa, a BBC rapidamente produziu o documentário Muito Além do Cidadão Kane sobre a influência anti-democrática da Globo no Brasil. Se as novelas da Globo são tão boas assim, por que essa preocupação da mídia britânica?
Leia também: "Novelas: o poder dos contos modernos".
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