João também viu “outra besta emergir da terra” (Ap 13:11). Aqui começa a descrição de outro poder que
possui semelhanças e diferenças em relação à primeira besta. Uma das
semelhanças é que, a exemplo da primeira, também é chamada de besta por se
tratar de um poder que assumiria caráter político-religioso. Por outro lado, há
duas diferenças significativas na origem desse poder. Enquanto a primeira
surgiu “do mar” (símbolo profético para povos, multidões, nações e línguas – Ap 17:15), ou seja, de um lugar
densamente povoado, a segunda besta surge “da terra”, simbolizando um lugar despovoado.
Outra diferença é que, a primeira besta, a exemplo
dos impérios que a precederam, surgiu quando “os quatro ventos do céu agitavam
o mar grande” (Dn 7:2). “Ventos” é
um símbolo profético para guerras, conflitos: “Trarei sobre Elão os quatro
ventos dos quatro ângulos do céu... e enviarei após eles a espada, até que
venha a consumi-los” (Jr 49: 36 e 37).
Então, a segunda besta “em vez de subverter outras potências para
estabelecer-se... deve surgir em território anteriormente desocupado, crescendo
gradual e pacificamente”. (EGW, O Grande
Conflito, p. 440).
Igualmente importante para se determinar a segunda besta é verificar a época de seu surgimento, que pode ser confirmada pelo contexto imediato da passagem: “Se alguém leva para cativeiro, para
cativeiro vai” (Ap 13:10). Essa foi
a última informação profética dada ainda sobre a primeira besta demonstrando
que, assim como Roma papal perseguiu e exilou aqueles que aceitavam apenas a
autoridade das Escrituras durante a Idade Média, assim também o poder romano
seria em algum momento exilado. O que de fato se cumpriu em 1798 quando as
tropas de Napoleão prenderam o papa Pio VI e confiscaram as terras de Roma.
Portanto, o contexto imediato sugere que a segunda besta surgiria nessa época.
Que poder surgiu em um local antes despovoado e
assumiu hegemonia sem precisar anular outros pela guerra no final do séc.
XVIII? “Uma nação, e apenas uma, satisfaz às especificações desta profecia;
esta aponta insofismavelmente para os Estados Unidos da América”. (EGW, O Grande Conflito, p. 440).
A segunda besta “possuía dois chifres, parecendo
cordeiro” (Ap 13:11). A princípio, a
segunda besta possuía características de inocência e brandura próprias de um
cordeiro. Na história do surgimento dos EUA pode-se perceber duas
características distintivas que fizeram dessa nação uma potência: a liberdade
civil e a liberdade religiosa. A Declaração
da Independência dos EUA afirma: “Todos os homens são criados iguais e
dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, entre eles, a vida, a
liberdade e a busca da felicidade”. (Wikipédia
– Declaração da Independência dos EUA).
O espírito de liberdade religiosa próprio do protestantismo
também prevaleceu entre os colonizadores norte-americanos que haviam fugido das
perseguições de Roma na Europa buscando novas terras além-mar onde pudessem
adorar a Deus segundo os ditames da sua própria consciência. Tendo a liberdade
religiosa como base, a Primeira Emenda da Constituição Americana foi redigida
assim: “O Congresso não fará qualquer lei referente ao estabelecimento de
religião, ou proibindo o livre exercício desta”. (Wikipédia
– Primeira Emenda à Constituição dos EUA).
No entanto, o fundamento da sua força não duraria
para sempre, pelo contrário, a profecia apontou para uma futura mudança de
atitude da segunda besta: “mas falava como dragão” (Ap 13:11). “A ‘fala’ da nação são os atos de suas autoridades
legislativas e judiciárias. Por esses atos desmentirá os princípios liberais e
pacíficos que estabeleceu como fundamento de sua política”. (EGW, O Grande Conflito, p. 442).
Como fator agravante, a profecia ainda afirmou que
os EUA exerceriam “toda a autoridade da primeira besta em nome dela” (Ap 13:12 – NVI). Algo inesperado e
surpreendente deve ocorrer: a segunda besta que foi estabelecida sobre os
pilares da liberdade civil e religiosa, desenvolveria o espírito de
intolerância e perseguição da primeira besta, agora sim justificando o próprio
símbolo profético (besta)! Para que isso se cumpra os EUA devem de alguma forma
anular ou reinterpretar radicalmente sua própria Constituição que foi concebida
sobre os fundamentos da liberdade civil e da liberdade religiosa.
O profeta João viu então a próxima ação da segunda
besta: “Faz com que a terra e os seus habitantes adorem a primeira besta, cuja
ferida mortal fora curada”. (Ap 13:12).
Ou seja, os EUA deverão impor alguma lei (as leis são a “fala” da nação) cuja
observância constituirá um ato de adoração ao papado. Como o sinal do poder de
Roma é a observância do descanso dominical, é de esperar que os EUA, em algum
momento, estabeleçam uma Lei Dominical obrigatória, cuja observância
constituirá ato de adoração ao papado. “Tanto
no Velho como no Novo Mundo o papado receberá homenagem pela honra prestada à
instituição do domingo que repousa unicamente na autoridade da Igreja de Roma”.
(EGW,
O Grande
Conflito, p. 479).
Embora seja difícil aceitar que os EUA, paraninfo mundial da liberdade, um dia possam renunciar sua própria Constituição e
decretar uma Lei Dominical, é bom lembrar que desde 1961, a Suprema Corte
norte-americana entende que, leis dominicais por razões seculares não tem relação com o estabelecimento de
religião e, portanto, não ferem a Primeira Emenda: “Em função da evolução das nossas Leis Dominicais [Sunday Closing Laws]
ao longo dos séculos e de sua ênfase mais ou menos recente em considerações
seculares, não é difícil compreender que quando escritas e administradas
atualmente, a maior parte delas, pelo menos, são de caráter secular, e não
religioso, e que, atualmente, elas não têm qualquer relação com o estabelecimento
de religião. . .” (McGowan
vs. Maryland, caso 366 U.S. 420, 444 -1961).
Roma sempre reconheceu que o dia de guarda bíblico é
o sábado: “A palavra escrita de Deus
ordena, de modo absoluto, repetitivo e o mais enfaticamente que o Seu culto
seja observado no Sábado, o sétimo dia, ordem essa acompanhada da mais
positiva ameaça de morte para com o transgressor”. (Catholic Mirror,
23/set/1893). Da mesma forma, assinala que a mudança para o domingo é uma
criação da própria Igreja Católica: “O sábado cristão [domingo] é, por conseguinte, até esse dia, o
filho reconhecido da Igreja Católica como esposa do Espírito Santo, sem uma
palavra de protesto do mundo Protestante”. (Ibidem).
E que essa mudança não tem base bíblica pode-se confirmar pela carta que o bispo Inácio de Antioquia, no começo do
segundo século (por volta de 130 d.C.), escreveu aos fiéis de Filadélfia: “Alguns
membros da comunidade se haviam separado do bispo porque consideravam
necessário que se observasse o sábado... De fato, para provar que o sábado
devia ser abolido em favor do domingo, Inácio de Antioquia não podia valer-se
de nenhum testemunho escriturístico. O único argumento era que o domingo era o
dia da ressurreição de Jesus.” (Dicionário Patrístico e de Antiguidades Cristãs, p. 711).
Na sequência da visão profética, João viu que a
segunda besta influenciaria quase o mundo todo “dizendo aos que habitam sobre a
terra que façam uma imagem à besta, àquela que, ferida à espada, sobreviveu” (Ap 13:14). A palavra “imagem” (grego, eikon) significa semelhança, figura,
estátua. Para determinar o que é a imagem da besta, é preciso entender a
formação da própria besta.
“Quando se corrompeu
a primitiva igreja, afastando-se da simplicidade do evangelho e aceitando ritos
e costumes pagãos, perdeu o Espírito e o poder de Deus; e, para que pudesse
governar a consciência do povo, procurou o apoio do poder secular. Disso
resultou o papado, uma igreja que dirigia o poder do Estado e o empregava para
favorecer aos seus próprios fins, especialmente na punição da 'heresia'... Foi
a apostasia que levou a igreja primitiva a procurar o auxílio do governo civil,
e isto preparou o caminho para o desenvolvimento do papado - a besta”. (EGW, O Grande Conflito, p.
443).
Como a imagem da besta
é uma cópia da própria besta, essa imagem será formada da mesma maneira: "Assim
a apostasia na igreja [protestante] preparará o caminho para a imagem da
besta". (EGW, O Grande
Conflito, p. 444).
"A fim de
formarem os Estados Unidos uma imagem da besta, o poder religioso deve a tal
ponto dirigir o governo civil que a autoridade do Estado também seja empregada
pela igreja para realizar os seus próprios fins”. Ibidem, p. 443.
“Quando as principais igrejas dos Estados Unidos, ligando-se em pontos de doutrinas que lhes são comuns, influenciarem o Estado para que imponha seus decretos e lhes apoie as instituições, a América protestante terá então formado uma imagem da hierarquia romana, e a inflição de penas civis aos dissidentes será o resultado inevitável”. Ibidem, p. 445.
“Quando as principais igrejas dos Estados Unidos, ligando-se em pontos de doutrinas que lhes são comuns, influenciarem o Estado para que imponha seus decretos e lhes apoie as instituições, a América protestante terá então formado uma imagem da hierarquia romana, e a inflição de penas civis aos dissidentes será o resultado inevitável”. Ibidem, p. 445.
“A história se repetirá. A religião falsa será exaltada. O primeiro dia
da semana, um dia comum de trabalho, que não possui santidade alguma, será
estabelecido como foi a estátua de Babilônia. A todas as nações, línguas e
povos se ordenará que venerem esse falso sábado”. (EGW, Eventos Finais, p. 134).
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