Não nos devia surpreender, portanto, que a trindade iníqua descrita em Apocalipse 13, não só oferece uma contrafação das Pessoas da Divindade, como também dos primeiros quatro mandamentos. O primeiro mandamento diz: “Não terás outros deuses diante de Mim”, mas a besta do mar toma o lugar de Deus por receber ela própria adoração (Apoc. 13:4 e 8). O segundo mandamento adverte contra o culto às imagens, contudo a besta que sobe da terra estabelece uma imagem a ser adorada (Apoc. 13:14 e 15). O terceiro mandamento diz: “Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão”, mas a besta procedente do mar tem nomes de blasfêmia escritos sobre si por toda parte (Apoc. 13:1, 5 e 6).
O quarto mandamento declara: “Lembra-te do dia do sábado.” As antigas tábuas de concerto (documentos de contrato) eram seladas no centro com um selo de posse e autoridade. Uma vez que os dez mandamentos seguem a forma das antigas tábuas de concerto, não devemos nos admirar de que também tenham um selo de posse e autoridade ao centro, o mandamento do sábado.
“Porque em seis dias o Senhor fez os céus e a terra, o mar, e tudo quanto neles há, mas ao sétimo dia descansou. Por isso, abençoou o Senhor o dia de sábado, e o santificou”. Êxo. 20:11.
A declaração acima é o único lugar nos dez mandamentos onde a base da autoridade de Deus sobre toda a criação é definida (Ele é o Criador). Esse conceito de um selo é importante no Apocalipse também. Os 144 mil são selados em suas frontes (Apo. 14:1; ver Apoc. 7:3 e 4; Êxo. 31:13 e 17). A trindade iníqua oferece um selo falsificado também, a marca da besta (Apoc. 13:16 e 17). Destarte, todos os quatro mandamentos na primeira tábua da lei sofrem o ataque da trindade iníqua de Apocalipse 13. A primeira tábua da lei jaz ao centro da batalha entre o dragão e o remanescente.
Essa ênfase sobre os primeiros quatro mandamentos surge de outros modos em Apocalipse 13 e 14. Seguidores da besta são assinalados na testa ou na mão. Esse conceito faz recordar o que muitos judeus consideram o texto mais importante da Bíblia hebraica: "Ouve, ó Israel; o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todas as tuas forças.” Deut. 6:4 e 5.
Jesus considerou essas palavras uma síntese da primeira tábua da lei (ver Mat. 22:37-40). Se você ama a Deus de todo o coração, não servirá a outros deuses, não cultuará ídolos, não blasfemará contra o Seu nome e não dedicará outro dia a Deus. Sob tal perspectiva, notemos as palavras de Deuteronômio 6:8: “Também as atarás por sinal na tua mão e te serão por frontais entre os teus olhos.”
Claramente a marca da besta é uma contrafação da primeira tábua da lei. Outra referência à primeira tábua da lei se acha em Apocalipse 14:6 e 7. Essa passagem oferece as mesmas motivações para obediência que se podem achar na primeira tábua da lei. O que é uma motivação? É um incentivo para fazer o que se pede para alguém cumprir. Minha esposa e eu passamos quase dez anos treinando crianças a usarem o toalete do banheiro. As pessoas indicavam-nos todo tipo de motivação para levar os pequenos a realizarem o que queríamos que fizessem. Um exemplo de motivação positiva sugerida era biscoitos. “Faça isso (a coisa certa) que ganhará isto!” Um exemplo de motivação negativa era uma colher de madeira. “Faça isso (a coisa errada) e você ganhará isto!”
A primeira motivação para observar os mandamentos tem que ver com salvação, uma motivação positiva. “Sendo que Eu fui quem os trouxe da escravidão do Egito, por que iriam desejar servir a algum outro deus?”(Êxo. 20:1-3). A segunda motivação é mais negativa, a motivação do julgamento: “Sendo que Eu sou o Deus que puno os idólatras, por favor, levem a sério estes mandamentos!” (Êxo. 20:4-6). Todos os pais têm tido que empregar esse tipo de motivação uma vez ou outra. A terceira motivação está no quarto mandamento: “Porque em seis dias o Senhor fez os céus e a Terra” (Êxo. 20:11). Essa é a motivação da Criação. “Uma vez que Eu o criei, sei o que lhe é melhor.”
Apocalipse 14:6-7 estabelece essas mesmas três motivações no contexto do fim. O primeiro anjo tem o “evangelho eterno” (Apoc. 14:6), a motivação da salvação. Ele também adverte que “é chegada a hora do Seu juízo” (Apoc. 14:7). E apela a todos para adorarem ao Criador (Apoc. 14:7). A mensagem do primeiro anjo, portanto, contém as mesmas motivações como na primeira tábua da lei. O texto de Apocalipse 13 e 14 oferece, pois, várias indicações de como o modo pelo qual nos relacionamos com a primeira tábua da lei é a questão básica no fim.
Uma desculpa costumeira quando um crente nas Escrituras comete um deslize ético é algo como: “Satanás trabalha mais duro para levar o povo de Deus a pecar e parecer mau. Ele não precisa se empenhar tanto com aqueles que não servem a Deus.” Isso provavelmente seja verdade. Mas pode haver uma explicação adicional.
No livro de Apocalipse a grande questão no tempo do fim tem que ver com a primeira tábua da lei. Os que estão aguardando a volta de Jesus se preocuparão com a adoração apropriada. Por outro lado, no Evangelho de Mateus a grande preocupação do fim é a segunda tábua de pedra. Os que estão no aguardo de Jesus se preocuparão com as pessoas. Tratarão os outros do modo como Cristo os tratou. Mateus tem uma ênfase ética, Apocalipse uma ênfase teológica. O contexto é a razão para a diferença. Em Mateus os discípulos são ouvintes das instruções. Para eles a verdade-teste no fim é como tratar as pessoas. Em Apocalipse 14 a mensagem é para o mundo. E para o mundo, a verdade-teste no fim tem que ver com o relacionamento fundamental da pessoa com Deus.
Nossa ênfase central é tanto a lealdade para com Deus quanto a ênfase mais ética de Mateus. Ambas as ênfases são claramente de suprema importância. Assim, no evangelismo não se deve negligenciar levar em conta a ênfase ética ao acentuarmos coisas tais como a adoração a Deus pela guarda do sábado, a marca da besta, o dizimar e outros aspectos de nosso relacionamento direto com Deus. Seria possível que uma pessoa ofereça “verdades-teste” para o mundo (a primeira tábua da lei) por tanto tempo que passe por alto a “verdade-teste” para nós próprios (a segunda tábua da lei)?
(Continua...)
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