A passagem de Bento XVI pelo Brasil mobilizou 3.200 jornalistas de todo o mundo. (Para os jogos PAN 2007, estão sendo esperados 3.000 jornalistas.) Só esse número já é suficiente para concluir que, atualmente, o poder político (e também religioso) do Vaticano é inversamente proporcional ao seu tamanho geográfico. Cada palavra proferida por Bento XVI nessa viagem foi registrada e analisada pela mídia. Como era de se esperar, houve até uma “overdose” de notícias relacionadas à viagem papal. (Não foi difícil encontrar pessoas com comentários do tipo “Não agüento mais ouvir notícias sobre o papa”.)
A própria mídia percebeu que o objetivo da viagem de Bento XVI ao Brasil foi “promover o estilo de vida católico”. O papa usou o púlpito brasileiro para explicar ao mundo “o que é ser católico”. A razão é simples: a Igreja Católica passa por uma crise de identidade não só no Brasil, como no mundo todo. Por um lado, pressionados pela visão secular-relativista do pós-modernismo, e de outro lado inconformados com posições “radicais” da moral ensinada pela própria Igreja (algumas posições são realmente radicais), muitos fiéis estão abandonando o redil católico, sendo que alguns o fazem só em “espírito”, outros em “espírito e corpo” – vários dos quais passam a congregar em igrejas evangélicas, para desespero do Vaticano.
Alguns temas enfatizados por Bento XVI em seus discursos também são comuns aos protestantes (igrejas tradicionais): a santidade da vida (contra o aborto), a santidade do matrimônio tradicional (contra a união homossexual), a castidade antes do casamento e a fidelidade depois do voto matrimonial. Outro exemplo pode ser encontrado na exortação de Bento XVI, proferida durante a missa no Campo de Marte, em São Paulo: “É preciso dizer não àqueles meios de comunicação social que ridicularizam a santidade do matrimônio e a virgindade antes do casamento.” (Imagine como seria fantástico se todos os cristãos colocassem em prática essa exortação!)
Todavia, entre a teologia do catolicismo e a teologia protestante tradicional ainda existe um abismo intransponível. Sem dúvida, a diferença principal é a questão sobre a autoridade das Escrituras Sagradas. Enquanto o protestantismo coloca a autoridade das Escrituras Sagradas como norma final para a fé e a prática, o catolicismo insiste em afirmar que a autoridade das Escrituras Sagradas está subordinada à autoridade da Igreja. Daí, como se pode ver, decorrem todas as outras diferenças teológicas. A começar pela figura e a autoridade do papa (palavra em latim que significa “pai”). Se os católicos seguissem os ensinamentos de Jesus registrados nos Evangelhos, seu corretor-mór perderia o emprego: “A ninguém sobre a terra chameis vosso pai; porque só um é vosso Pai, aquele que está nos céus” (Mateus 23:9).
Quanto à autoridade do papa supostamente ser derivada da autoridade concedida a Pedro pelo próprio Cristo (Mateus 16:18 e 19), esse argumento é mais um exemplo do tipo de teologia que faz a Igreja Católica, colocando a autoridade da Igreja acima da autoridade das Escrituras Sagradas. Assim, ela é capaz de usar um texto bíblico que lhe convém, e ao mesmo tempo ignorar muitos outros textos que apontam seus erros. Ora, se o papa acredita ser o sucessor de Pedro, por que, então, ele não segue o exemplo do apóstolo em determinadas questões: (1) Pedro nunca assumiu o papel de intercessor manifestando a pretensão de perdoar os pecados (Atos 8:20-23); (2) Pedro também não aceitava homenagens de adoração (Atos 10:25 e 26).
"Mas Deus terá sobre a Terra um povo que mantenha a Bíblia, e a Bíblia só, como norma de todas as doutrinas e base de todas as reformas. As opiniões de homens ilustrados, as deduções da ciência, os credos ou decisões dos concílios eclesiásticos, tão numerosos e discordantes como são as igrejas que representam, a voz da maioria – nenhuma destas coisas, nem todas em conjunto deveriam considerar-se como prova, em favor ou contra qualquer ponto da fé religiosa. Antes de aceitar qualquer doutrina ou preceito, devemos pedir em seu apoio um claro ‘Assim diz o Senhor’. Satanás se esforça constantemente por atrair a atenção para o homem, em lugar de Deus. Induz o povo a olhar para os bispos, pastores, professores de teologia, como seus guias, em vez de examinarem as Escrituras a fim de, por si mesmos, aprenderem seu dever" (O Grande Conflito, p. 595).
2 comentários:
Acredito que seria interessante refletirmos se realmente as Escrituras são, de fato, a autoridade final em nossas igrejas Adventistas.Tenho observado que nenhuma decisão é tomada em nossas comissões que contrarie o manual da igreja, a Conferência Geral e Ellen White. Na igreja que frequento, pessoas sinceras não estão sendo batizadas por causa de um brinco. Onde nas Escrituras existe tal condição para ser batizado, para entrar no Reino dos céus? Acredito que somos mais católicos do que pensamos. Be disse Jesus: Tire a trave do olho antes de tirar o cisco do olho do outro.
Izaías Laurindo
Prezado Izaías:
As Escrituras tem sido a autoridade final para a Igreja Adventista do 7º Dia desde o seu surgimento. E cada membro de Igreja tem o direito e ao mesmo tempo o dever de zelar para que assim seja. A autoridade do Espírito de Profecia é derivada da própria autoridade das Escrituras, a qual nos revelou que no fim dos tempos o dom profético seria usado por Deus para guiar seu povo (Joel 2:28-31; Apocalipse 12:17 e 19:10).
Sobre o caso específico que você citou, por desconhecer os detalhes não posso julgar. Porém, para sanar qualquer dúvida sobre a posição oficial da IASD sobre o uso de jóias recomendo o excelente livro "O uso de jóias na Bíblia", de Angel Manuel Rodriguez, CPB.
O autor estabelece a diferença entre "princípios" e "normas". E demonstra que mesmo as normas são importantes em determinados contextos históricos. Também fala sobre a diferença entre "jóias ornamentais" (brinco, colar, etc)e "jóias funcionais" (aliança de casamento, etc).
Na pág. 124 ele afirma: " A norma adventista acerca das jóias rejeita o uso de jóias de adorno, reconhecendo ao mesmo tempo que existe algo considerado jóia funcional e que usá-la não é necessariamente uma violação dessa norma".
Há outras normas importantes no contexto histórico em que vivemos cuja obediência também são um pré-requisito para o batismo: por exemplo, o registro de casamento civil para duas pessoas que vivem juntas.
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