O capítulo 5 de Daniel narra o que aconteceu no palácio da Babilônia na noite em que a cidade caiu diante dos medos e persas. O rei, identificado como Belsazar, convidou seus oficiais e a nobreza babilônica para um grande banquete. Deve ter pensado que os persas que cercavam a Babilônia não tinham qualquer chance de conquistar a cidade por causa de suas extraordinárias fortificações.
Durante a festa, uma escrita sobrenatural surgiu na parede do salão do palácio onde ocorria o banquete. As quatro palavras escritas foram misteriosas o bastante a ponto de nenhum dos sábios da corte poder interpretá-las. Daniel, que foi lembrado de um episódio anterior envolvendo interpretação, foi chamado. Ele foi capaz de ler a escrita e dizer ao rei o significado: Belsazar havia sido pesado na balança do julgamento divino e achado em falta. Seu reino estava para lhe ser tirado e entregue aos medos e persas.
Essa profecia se cumpriu quando as forças invasoras entraram na cidade naquela mesma noite depois de terem desviado o curso do rio Eufrates. Babilônia foi conquistada sem qualquer batalha. Belsazar foi morto e seu reino passou para as mãos dos medos e persas.
A princípio, alguém poderia pensar ser impossível, por meio de fontes históricas, comprovar o cumprimento dessa profecia. Embora seja verdade que é muito difícil demonstrar que a profecia foi dada na mesma noite em que foi cumprida, há métodos indiretos mediante os quais podemos avaliar a questão.
Por algum tempo, a existência de Belsazar era desconhecida. Seu pai Nabonido aparecia como o último rei do período neo-babilônico. A partir de 1861, o nome de Belsazar como príncipe coroado começou a aparecer em tabletes cuneiformes que estavam sendo traduzidos. Essas referências continuaram a se acumular até que um tablete conhecido como “O Relato em Versos de Nabonido” foi publicado em 1929. Esse importante tablete indicou que Nabonido “confiou seu reino” a Belsazar quando ele se retirou para Tema, na Arábia, por um período prolongado. Assim, veio à luz a evidência de Belsazar como uma espécie de co-rei, ou príncipe co-regente.
O episódio de Daniel 5 é específico. Ele indica que quando Daniel foi à sala do trono para ler a escrita na parede, o rei que lá estava era Belsazar, não Nabonido. Era de se esperar que Nabonido estivesse oferecendo o banquete, mas ele não é sequer mencionado no relato. A implicação direta é que Nabonido não estava no palácio naquela noite. Se não estava no palácio, onde estava?
Um texto babilônico conhecido como “As Crônicas de Nabonido” nos diz que Babilônia foi tomada sem luta no dia 16 de Tishri do 17º ano, o último do reinado de Nabonido. Isso corresponde a 12 de outubro de 539 a.C. À época, diz o texto, Nabonido estava fora com uma divisão do exército babilônico lutando contra Ciro e os persas nas proximidades de Opis, uma cidade junto ao rio Tigre. Assim, era impossível que ele estivesse em Babilônia na noite em que ela caiu.
Esse seria um ponto em que Daniel muito facilmente poderia ter cometido um erro, colocando Nabonido no salão do banquete naquela noite, mas o profeta sabia qual rei estava lá – Belsazar, o príncipe co-regente – bem como sabia qual rei não estava lá – Nabonido, o rei-pai, que estava no campo de batalha com o exército babilônico.
Como poderia o escritor desse capítulo ter tido um conhecimento tão acurado de quem estava ou não na cidade naquela noite? A resposta é obvia: ele estava no palácio no momento em que o episódio aconteceu. Se o seu conhecimento desse fato central era tão preciso, então acredito que podemos confiar no seu relato quanto à profecia do que haveria de acontecer naquela mesma noite.
William H. Shea, Ph.D.
Fonte: Diálogo Universitário, Vol. 19, Nº I, 2007. "Quão confiável é a profecia bíblica? O exemplo de Daniel".
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