Bento XVI e Nicolas Sarkozy, em seu primeiro encontro desde a chegada deste último à presidência da República da França, sublinharam a importância da religião no mundo contemporâneo. A audiência privada, de meia hora de duração, serviu para repassar as relações Igreja e Estado, assim como algumas das questões mais candentes do panorama internacional... (Leia mais: Zenit)
O presidente da França, Nicholas Sarkozy, pronunciou um histórico discurso hoje em Roma, no qual apresentou uma visão da "laicidade positiva", que não tem direito de cortar as raízes cristãs de seu país. O chefe de Estado ofereceu uma ampla análise de sua visão sobre a religião no discurso de tomada de posse do título de «canônico de honra» da Basílica de São João de Latrão, pronunciado na Sala da Conciliação do palácio anexo à catedral do Papa.
O presidente, depois de ter sido recebido pelo Papa no Vaticano, explicou que "ninguém contesta que o regime francês da laicidade é hoje uma garantia de liberdade: liberdade de crer ou de não crer, liberdade de praticar uma religião e liberdade de mudar, liberdade de não ser ferido em sua consciência por práticas ostensivas, liberdade para os pais de dar aos filhos uma educação conforme suas crenças, liberdade de não ser discriminado pela administração em função de sua crença".
"A França mudou muito – reconheceu Sarkozy, que escreveu o livro ‘A República, as religiões, a esperança’ –. Os franceses têm convicções diferentes de antes. Agora a laicidade se apresenta como uma necessidade e uma oportunidade." Deixando isso claro, "a laicidade não deveria ser a negação do passado. Não tem o poder de tirar a França de suas raízes cristãs. Tentou fazê-lo. Não deveria."
"Como Bento XVI, considero que uma nação que ignora a herança ética, espiritual, religiosa de sua história comete um crime contra a sua cultura, contra o conjunto de sua história, de patrimônio, de arte e de tradições populares que impregna a tão profunda maneira de viver e pensar."
"Arrancar a raiz é perder o sentido, é debilitar o fundamento da identidade nacional, e secar ainda mais as relações sociais que tanta necessidade têm de símbolos de memória."
"Por este motivo, temos de ter juntos os dois extremos da corrente: assumir as raízes cristãs da França, valorizá-las, defendendo a laicidade finalmente amadurecida. Este é o passo que eu quis dar nesta tarde em São João de Latrão." Por este motivo, disse, "faço um chamado a uma laicidade positiva, ou seja, uma laicidade que, velando pela liberdade de pensamento, de crer ou não crer, não considera as religiões como um perigo, mas como uma vantagem".
O título de "canônico de honra" da Basílica de São João de Latrão foi atribuído pelos Papas aos reis da França desde tempos de Henrique V, em 1593.
Fonte: Zenit
(Colaboração: Maynart)
NOTA: Para entender a diferença que a Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR) estabelece entre "laicismo" e "laicidade" leia antes aqui. Essa diferença realmente existe já que a cultura atual predominante - materialista secular (baseada no ateísmo) - tem a tendência de isolar (até mesmo de ignorar) do debate público qualquer pessoa que se apresente com argumentos considerados "cristãos" (Leia mais aqui). Todavia, o que a ICAR geralmente "esquece" de enfatizar é que o Estado laico é aquele onde se prioriza a pluralidade de idéias e não se exerce o poder público em benefício apenas da religião majoritária (prejudicando grupos minoritários). Aí é que está o perigo. Qual é a verdadeira intenção da ICAR? Será que ela não pretende alcançar uma maior abertura no debate público (usando inclusive o argumento da laicidade) nos países de tradição cristã apenas para impor seus dogmas (em especial, a santificação do domingo) a toda a sociedade? Levando-se em conta que a ICAR não mudou em nada seus dogmas nem o espírito que os inspirou, como ficariam aqueles que guardam o sábado bíblico (sétimo dia)?
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