A revista Der Spiegel (30/01/2008) publicou uma interessante matéria (traduzida pelo UOL) intitulada: "Os três mitos da campanha eleitoral dos Estados Unidos". A matéria destaca os três temas comuns (para o articulista são "mitos") nas campanhas de todos os pré-candidatos, a despeito das aparentes diferenças que os separam.
Relevante mesmo nesta análise é quando o autor fala sobre o terceiro mito:
"O terceiro mito é o mais perigoso de todos, porque ele abala as próprias bases da Constituição dos Estados Unidos. Os críticos, cindidos de acordo com linhas partidárias, alegam que os Estados Unidos são um país dividido, escorraçada freneticamente por ambos os partidos, que, segundo eles, só são capazes de pensar em termos de amigos e inimigos. Todos os atuais candidatos prometem por um fim ao atual clima de polarização e forjar um grande consenso. 'Somos uma nação', diz Obama. O mesmo diz Mitt Romney. E todos os demais. Mas este sistema de diálogo, de limitações e inspeções para manter o equilíbrio, é precisamente o que os criadores da Constituição tinham em mente. É um sistema árduo e freqüentemente exasperante, mas ele funciona. Um partido impede que o outro ultrapasse limites. Às vezes a Câmara dos Deputados se opõe ao Senado, ou ambos atacam - quando necessário - a Casa Branca. É assim que a coisa funciona - e é desta maneira que se tinha intenção que funcionasse. A democracia prospera quando há diferenças de opinião, o que se traduz em diferenças entre partidos. Prometer colocar um fim à esta disputa contínua é algo que faz tanto sentido quanto um gerente de supermercado anunciar planos para aglutinar as seções de carnes e de verduras - e justificar a sua decisão dizendo que a gerência quer acabar com a polarização de décadas entre os amantes das bistecas e os vegetarianos. Os cidadãos fariam bem em exigir desacordos e palavras duras. Os partidos precisam manter as suas identidades partidárias para que os eleitores tenham opções reais. No país governado pelo consenso que atualmente é pregado pelos candidatos, os eleitores acabariam sentindo-se como os clientes no supermercado imaginário com o seu departamento misto de carnes e verduras: vegetarianos e comedores de carne ficariam igualmente insatisfeitos..."
Tendo como base essa análise, podemos chegar a certas conclusões:
1) Há uma tendência no cenário político norte-americano para se acabar com as diferenças ideológicas, ou pelos menos minimizá-las. Nunca antes foi usado de maneira tão contundente o bordão: "Uma nação".
2) Apesar das aparentes diferenças dos pré-candidatos à presidência dos EUA, todos estão trabalhando por um "consenso coletivo" (lembra dos posts sobre o coletivismo?) que pode contribuir para criar o clima necessário para a futura mudança da Constituição dos EUA.
3) A crise final está mais próxima do que se imagina uma vez que até os analistas seculares já perceberam a existência real e perigosa do "consenso coletivo" na política norte-americana.
4) A distância que vai separar "Uma nação" de "Uma nação sob Deus" será tão insignificante que talvez nem mesmo será percebida.
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