sábado, abril 12, 2008

Neocons e realistas disputam McCain


12 de abril de 2008
The New York Times
O senador John McCain há muito fez de suas décadas de experiência em política externa e segurança nacional uma peça central de sua identidade política e sugere que levaria à Casa Branca uma visão de mundo plenamente formada. Mas agora uma das alas formadoras da política externa do Partido Republicano - os ditos "pragmáticos", alguns dos quais consideram hoje a guerra no Iraque um erro - temem o possível crescimento da influência de uma ala rival, os neoconservadores, sobre McCain. O pensamento dos neocons dominou o primeiro mandato do presidente George W. Bush e exerceu papel decisivo na construção dos argumentos que embasaram a guerra.

As preocupações surgiram quando McCain se tornou o virtual candidato republicano à Presidência dos EUA e começou a criar uma lista mais formal de assessores de política externa. No rol, há neocons conhecidos como Robert Kagan - que redigiu boa parte do discurso de 26 de março no qual McCain se definiu como "idealista realista" -, o analista de segurança Max Boot e o ex-embaixador na ONU John Bolton.
Membros importantes da corrente pragmática, também definida muitas vezes como ala "realista", se dizem preocupados, igualmente, com o principal assessor da campanha de McCain para assuntos de política externa. Randy Scheunemann foi membro fundador do belicoso Comitê Pela Libertação do Iraque e partidário entusiasta do líder iraquiano exilado Ahmad Chalabi, um dos favoritos do Pentágono. "Talvez seja forte demais dizer que há uma briga pela alma de John McCain", disse Lawrence Eagleburger, secretário de Estado de George Bush pai e membro da ala pragmática.

"Mas, se não há briga, estou convicto de que haverá ao menos uma tentativa. Estou preocupado com a possibilidade de isso já estar acontecendo." Além disso, Eagleburger disse que muitos de seus "amigos de extrema-direita agora decidiram que, se não podem vencê-lo, devem persuadir o candidato a deslizar para o lado deles quanto a essas questões". O senador, ciente dessas preocupações, disse a repórteres nesta semana que aceitava conselhos de uma ampla gama de pessoas. "Algumas delas podem ser vistas como "mais conservadoras", fecha aspas", disse. "Mas converso com muita gente, ouço o que eles têm a dizer, leio o que escrevem."

Sem ortodoxia
McCain sempre se promoveu como inimigo da ortodoxia, tanto na política interna quanto na externa. Como partidário inflexível da Guerra do Iraque, ele está estreitamente associado a uma questão identificada com os neoconservadores, mesmo já tendo criticado a condução da guerra por Bush. Ele também mostra simpatia pelos neocons quanto a outras questões, assumindo linha dura com a Rússia e quanto à proposta de estabelecer uma nova organização internacional integrada apenas pelas democracias, como contrapeso à ONU. Já quanto a outros aspectos, ele se inclina às posições pragmáticas, como no caso de sua promessa de trabalhar em união mais estreita com os países aliados. Assessores de McCain dizem que ele conversa com realistas como os ex-secretários de Estado Henry Kissinger e George Shultz. Kissinger declarou que conversou com o candidato "15 ou 20 vezes" em 2007.

"Não acredito que o senador McCain acentue as divergências, e sim que ele busque um consenso", disse Scheunemann. "Temos figuras bem conhecidas da ala realista, bem como neoconservadores", mas "eles estão aderindo à campanha de McCain; não é McCain que está aderindo às opiniões que essas alas tenham".

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