domingo, outubro 19, 2008

Visões de mundo - Parte 1

"Cosmovisão é a janela pela qual percebemos o mundo e determinamos, quase sempre subconscientemente o que é real e importante, ou irreal e sem importância" (Phillip Johnson - Prefácio de Verdade Absoluta).

"Toda cosmovisão ou ideologia tem de responder a três perguntas fundamentais:
1. Criação: De onde tudo veio? quem somos nós e como chegamos aqui?
2. Queda: O que deu errado com o mundo?
3. Redenção: Como inverter a queda e pôr o mundo em ordem outra vez?

"O marxismo ajusta-se às três categorias de criação, queda e redenção de forma tão nítida que muitos o denominam heresia religiosa... Para Karl Marx, o poder criativo supremo era a questão em si. Tratava-se de nova forma de materialismo filosófico, porque as versões mais antigas permaneceram estáticas, retratando o mundo como uma enorme máquina.

"Segundo Marx, o problema com essa concepção era que abria a porta à idéia de Deus: considerando que uma máquina é planejada para desempenhar determinada função, tende haver um projetista, da mesma maneira que um relógio insinua a existência de um relojoeiro. Para evitar essa conclusão, Marx propôs que o universo material não era estático, mas dinâmico, contendo em si mesmo o poder do movimento, mudança e desenvolvimento. É o que quis dizer por materialismo dialético. Ele imbutiu a força motora na matéria como a lei dialética. Em suma, Marx fez da matéria Deus.

"Seu discípulo, Vladimir Ilyich Lênin, não se esquivou de usar linguagem explicitamente religiosa: 'Podemos considerar o mundo material e cósmico como o ser supremo, a causa de todas as causas, o criador do céu e da terra'. O universo tornou-se uma máquina auto-originada e auto-operante, movendo-se de modo inexorável para sua meta final da sociedade sem classe.

"O correlativo de Marx ao jardim do Éden era o estado de comunismo primitivo. E como foi que a humanidade caiu deste estado de inocência para a escravidão e tirania? Pela criação da propriedade privada. Desta 'queda' econômica surgiu todos os males da exploração e luta de classe.

"A redenção ocorre pela inversão do pecado original - neste caso, destruindo a posse da propriedade privada. E o 'redentor' é o proletariado, os trabalhadores de fábrica urbanos, que se revoltarão em revolução contra seus opressores capitalistas. Certo historiador, ainda que não se professe cristão, apresenta as implicações religiosas com precisão: 'O proletariado salvador, por seu sofrimento [vai] redimir o gênero humano e trazer o Reino dos céus para a terra'...



"Outro ponto importante na categoria da criação é a visão que toda pessoa tem da natureza humana. A humanidade sempre é definida segundo sua relação com Deus, ou com o quer que seja considerada a realidade suprema. No marxismo, somos definidos pelo modo como nos relacionamos com a matéria, o modo como a manipulamos e dela fazemos coisas para satisfazer nossas necessidades. Em suma, pelos meios de produção...

"Note que Marx não identifica que a fonte suprema do mal é uma falha moral, pois isso implicaria que os seres humanos são moralmente responsáveis, significando que a solução tem de ser perdão e salvação. Ele determina o mal nas relações sociais e econômicas; portanto, a solução é mudar essas relações pela revolução. O marxismo presume que a natureza humana pode ser transformada mudando as estruturas sociais externas.

"O dia do julgamento no marxismo é o dia da revolução, quando a burguesia nociva será condenada... O marxismo 'é nada menos que um programa para criar uma nova humanidade e um novo mundo, nos quais todos os conflitos atuais serão resolvidos', diz o teólogo Klaus Bockmuehl. 'Trata-se de uma visão secularizada do Reino de Deus'...

"Ao reunir todos os elementos de uma cosmovisão abrangente, o marxismo atende a uma profunda fome religiosa de redenção. A idéia de Marx do fim da história, quando o comunismo triunfará e o conflito desaparecerá do mundo, 'é transparentemente uma mutação secular das crenças apocalípticas cristãs', escreve o filósofo John Gray. É 'mito mascarado de ciência'.

"E é por isso que o comunismo é mais poderoso que a ciência. Ele toma a esperança religiosa sobrenatural e a seculariza em zelo revolucionário mundano. 'Semelhante ao cristianismo, o pensamento de Marx é mais que teoria', escreve o filósofo Leslie Stevenson. 'É para muitos uma fé secular, uma visão de salvaçào social'".


(Nancy Pearcey, Verdade Absoluta, CPAD, p. 151-154).

Continua...

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