Na Califórnia, eleitores não escolherão hoje apenas entre Barack Obama e John McCain: também decidirão nas urnas se pretendem manter a permissão local ao casamento gay. O referendo sobre a chamada proposição oito - que diz que só o casamento entre um homem e uma mulher é válido no Estado - gerou uma guerra midiática entre grupos liberais e conservadores, com gastos estimados em US$ 70 milhões.
Mas a votação da Califórnia é apenas uma entre os 153 plebiscitos e referendos que acontecem em 36 Estados nesta terça, paralelamente à eleição presidencial. E não é a única que gera polêmica. Arizona e Flórida também decidem sobre o casamento gay. A legalidade do aborto será revista no Colorado e em Dakota do Sul. Washington terá voto sobre suicídio assistido, Michigan opina sobre pesquisas com células-tronco, e Colorado e Nebraska se manifestam sobre ações afirmativas.
As discussões potencialmente explosivas sobre os referendos e plebiscitos, porém, foram ofuscadas neste ano por uma eleição presidencial altamente polarizada. Uma preocupação comum entre analistas, de que as propostas afetem a corrida eleitoral ao mobilizar grupos específicos do eleitorado, ficou minimizada desta vez. O próprio número de propostas é menor em 2008 do que o de eleições anteriores. Em 2004, houve 162 plebiscitos e referendos.
O referendo californiano é um dos poucos a capturar a atenção da mídia nacional, talvez pelo dinheiro envolvido. Até 27 de outubro, a arrecadação a favor do casamento gay já alcançava US$ 32,2 milhões, ante os US$ 28,2 milhões recebidos pelos grupos contrários.
A proposta de banir o casamento gay tem o apoio de McCain e a rejeição de Obama. O democrata lidera pesquisas na Califórnia por mais de 24 pontos, e pesquisa do instituto Field entre 18 e 28 de outubro também dava vantagem de cinco pontos (49% a 44%) para a manutenção da permissão ao casamento gay no Estado. O resultado poderá ter importância para todo o país. Além da Califórnia, só Massachusetts e Connecticut permitem o casamento gay nos EUA.
As propostas de proibição do aborto também poderão ter conseqüências que ultrapassam as fronteiras dos Estados em que serão votadas. As iniciativas em Dakota do Sul e Colorado partiram de grupos conservadores: se aprovadas, podem dar à Suprema Corte uma oportunidade de rever a decisão Roe versus Wade, de 1973, que estabeleceu o precedente para a legalidade da prática. No Colorado, a proposta define uma "pessoa" como ser humano a partir da fecundação. Assim, o aborto seria equivalente ao assassinato.
Fonte: Folha de São Paulo, 04 de novembro de 2008.
NOTA: Esses plebiscitos condicionam as pessoas a decidir sobre questões polêmicas. Imagine um plebiscito futuro do tipo: Você é favor do descanso semanal obrigatório (domingo) como meio de salvar a Terra do aquecimento global? Que tal?
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