Em dia dedicado à religião, o presidente dos EUA, Barack Obama, assinou ordem executiva que modifica o polêmico Escritório da Casa Branca de Iniciativas Comunitárias e Baseadas na Fé, criado em 2001 por George W. Bush, agora rebatizado de Escritório da Casa Branca de Parcerias de Vizinhança e Baseadas na Fé.
A mudança vai além do título, embora este seja importante, ao reforçar a ideia de Obama de fortalecer os grupos de base que o ajudaram a chegar ao poder. O principal, no entanto, é que o presidente inseriu no estatuto do escritório uma cláusula que determina que todo uso de verba federal por organizações religiosas seja "compatível com a Constituição" e "as leis e valores" dos EUA.
A meta do escritório não será favorecer um grupo religioso sobre o outro ou mesmo grupos religiosos sobre grupos seculares, disse o democrata. "Será simplesmente trabalhar em benefício das organizações que querem trabalhar em benefício de nossas comunidades e fazê-lo sem apagar a linha que nossos fundadores sabiamente traçaram entre igreja e Estado."
O trabalho da entidade nos anos Bush era alvo de críticas. Primeiro, havia a orientação do republicano para que não recebessem ajuda federal organizações religiosas que fossem pró-aborto, por exemplo, ou não defendessem a abstinência sexual como único método anticoncepcional para adolescentes. Depois, o governo fazia vista grossa para entidades que discriminavam na hora de contratar, recusando-se a empregar gays ou ateus.
Quando candidato, Obama criticou esses aspectos da iniciativa do Executivo. "Você não pode usar dinheiro federal para fazer proselitismo", disse, em julho. Ontem, o tom foi mais moderado. Em vez de proibir a prática já na medida, a Casa Branca julgará o mérito das entidades que pedirem verba caso a caso, com a ajuda do Departamento da Justiça. Quem disse isso foi Joshua DuBois, 26, indicado para dirigir o escritório. Pastor pentecostal que lidava com assuntos religiosos durante a campanha do democrata, DuBois estará à frente de um comitê multirreligioso composto de 25 líderes, entre eles o evangélico moderado Jim Wallis, um rabino reformista e Otis Moss Jr., pai do atual pastor da Trinity, igreja em que Obama foi batizado e que até o começo do ano passado era comandada pelo polêmico Jeremiah Wright.
Cerne de discussões acaloradas na campanha, a religião estava ausente dos primeiros dias do presidente. Não ontem. Obama começou o dia no National Prayer Breakfast (café da manhã de oração nacional), evento ecumênico com participação presidencial desde 1953.
"Tive um pai que nasceu muçulmano mas se tornou ateu, avós que eram metodistas e batistas não praticantes, uma mãe que era cética em relação a religiões organizadas, mesmo tendo sido a pessoa mais bondosa e mais espiritualizada que conheci", começou Obama, para contar como virou cristão "muitos anos depois", ao trabalhar com comunidades pobres.
"Aconteceu não por conta de doutrinação ou uma revelação súbita, mas porque passei mês após mês trabalhando com pessoas de igrejas que simplesmente queriam ajudar vizinhos em seus momentos mais difíceis", disse Obama. O presidente, que não vai à missa desde a posse, ainda procura uma igreja em Washington, informou a Casa Branca.
Na plateia do evento, estavam o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair, entre outros líderes estrangeiros, e a presidente do Congresso, Nancy Pelosi, entre os locais.
Uma brasileira assistiu ao evento, como faz há 20 anos. Era Benedita da Silva, secretária de Assistência Social e Direitos Humanos do Rio de Janeiro, que foi a primeira governadora negra do país: "Foi magnífico, o presidente Obama conseguiu atrair o dobro de pessoas que costumam vir à oração". Benedita acabou não se encontrando com Obama.
Fonte: Folha de São Paulo, 06 de fevereiro ded 2009.
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