terça-feira, outubro 09, 2007

Historicismo: Períodos proféticos em Daniel

Daniel 10-12 e Daniel 7 também compartilham entre si da mesma preocupação em descrever a seqüência de reinos e poderes que estariam diretamente relacionados com o povo de Deus até o final dos tempos. A seqüência é a mesma, salvo pelo fato de Daniel 7 começar primeiro por Babilônia (leão), enquanto que Daniel 10-12 inicia-se com os Persas. Entretanto, não há contradição, porque em Daniel 7 o império babilônico ainda existia, e em Daniel 10-12 já havia sido conquistado pelos Medo-Persas. Assim, o "urso" de Daniel 7:5, 17 corresponde aos reis persas de Daniel 10:1, 13, 20 e 11:12. O leopardo com 4 asas e 4 cabeças (Dn 7:6, 17), a quem foi dado o domínio, corresponde ao poderoso rei da Grécia, cujo reino seria dividido aos quatro ventos dos céus (Dn 10:20; 11:3-13).

O "animal terrível" com dez chifres, dentre os quais aparece um chifre pequeno com boca e olhos de homem (Dn 7:7-8, 19-25), aparece em paralelo co "Rei do Norte" em Daniel 11:14-45. Ambos blasfemam contra o Altíssimo (Dn 7:8, 24-25; 11:36-39), perseguem os santos e tentam destruí-los (Dn 7:21, 25; 11:15, 33-35). O tempo em que os santos lhe serão entregues nas mãos é o mesmo, "um tempo, tempos e metade de um tempo" (Dn 7:25, 12:7; ver também Dn 11:33, 35).

Após esse período vem o Juízo, quando os livros serão inspecionados (Dn 7:10; 12:1). Esse Juízo traz destruição para os poderes que lutam contra Deus e os ímpios, e justificação e libertação ao perseguido povo do Altíssimo (Dn 7:9-12, 22, 26-27; 11:35, 45; 12:1-3). Em Daniel 7, esse Juízo está associado à figura do Filho do homem (Dn 7:13-14), enquanto que em Daniel 10-12 está associado com Miguel, o Grande Príncipe (Dn 12:1-3).

Implicações do paralelismo entre Daniel 10-12 e Daniel 7

Os períodos proféticos dos três tempos e meio, dos 1.290 dias e dos 1.335 dias são partes do grande período profético das 2300 tardes e manhãs. Portanto, estão no passado.

Finalmente, o paralelo entre Daniel 12:5-7 e 8:13-16 nos indica que foi esse mesmo Ser divino, vestido em vestes sacerdotais, quem declarou, de forma solene, o tempo que duraria a supremacia da "Abominação Assoladora", e quando começaria o Juízo divino para julgar o Chifre Pequeno, para destruí-lo e para vindicar o santuário de Deus e os santos do Altíssimo. A descrição da cena em ambos os capítulos é idêntica: O Ser divino com aparência de um homem está sobre as águas de um rio (Dn 12:6; 8:16), um outro ser celestial que está às margens do rio faz a pergunta: "Ad Matai" (Até quando? Dn 12:6; 8:13). O Ser divino responde dando uma cifra de tempo (Dn 12:7, "tempo, tempos e metade de um tempo"; Dn 8:14, "até duas mil e trezentas tardes e manhãs"). Estes dois períodos estão ligados ao tempo de supremacia da "Transgressão Assoladora", ou seja, do "Chifre Pequeno" (Dn 12:7; 8:13). O texto claramente expõe que o enfoque desses tempos proféticos é o final do tempo da destruição do povo santo. Esse tempo de destruição foi marcado pelo fato do "Contínuo" ter sido tirado e estabelecida a "Abominação Desoladora" (Dn 12:7, 11; 8:13).

Daniel 12:11 acrescentou um terceiro período aos dois mencionados acima: 1290 dias. Textualmente, todos esses períodos estão ligados entre si, e a interpretação de um determina a interpretação do outro. Quando o Ser divino, em Daniel 12:7, menciona o período de "tempo, tempos e metade de um tempo", ele diretamente evoca o mesmo período de tempo que já havia sido referido em Daniel 7:25. Em Daniel 7 este tempo correspondia também ao tempo da supremacia do "Chifre Pequeno", tempo em que os santos lhe seriam entregues nas mãos. Mas após esse período, seria estabelecido o Juízo divino para julgar especialmente o "Chifre Pequeno", e trazer libertação ao povo de Deus (Dn 7:26-27).

Daniel 7, assim, nos provê um lado básico: após os três tempos e meio de supremacia do "Chifre Pequeno" seria estabelecido o juízo descrito em Daniel 7:9-14. Mas quando ocorreria esse juízo? Daniel 8:14 responde: após "duas mil e trezentas tardes e manhãs". A partir de quando se começaria a contar este período de "tardes e manhãs"? A resposta aparece em Daniel 9 com as 70 Semanas. Na profecia das 70 Semanas, o livro de Daniel nos dá o marco inicial para o longo período profético das "tardes e manhãs". Fala da vinda do Messias e especifica que no mesmo tempo do seu aparecimento surgiria também o poder assolador descrito em Daniel 7 e 8.

Assim, temos firmados no texto de Daniel dois lados básicos quanto aos limites históricos dentro dos quais se inserem os tempos proféticos de Daniel: o início das 70 Semanas marcam o limite inicial, enquanto que o fim das "duas mil e trezentas tardes e manhãs" o seu limite final. Entre esse início e fim estão os períodos dos três tempos e meio (1.260 dias) e 1290 dias, referindo-se ao período da supremacia da "Abominação Desoladora", que deveriam terminar um pouco antes do início do tempo do juízo (Dn 7:25-26).

Por último, o livro de Daniel adiciona mais um período de tempo, os 1335 dias, dizendo: "Bem-aventurado o que espera e chega até mil trezentos e trinta e cinco dias" (Dn 12:12). A que período o anjo se refere aqui? É importante notar que essa última declaração cronológica em Daniel está intimamente ligada à anterior, ao período de 1290 dias (Dn 12:11), e é apresentada como uma prolongação, uma extensão desse período anterior (Dn 12:11-12). O livro de Daniel nos dá assim mais um dado cronológico, indicando o tempo que separaria o fim do período da supremacia da "Abominação Desoladora" e o início do tempo do juízo (ou seja: 1335 menos 1290 dias, igual a 45 dias), dado que não tinha sido precisado em Daniel 7:26-27. Assim, o livro de Daniel fecha o ciclo: o capítulo 12 de Daniel complementa os dados fornecidos no capítulo 7. Enquanto Daniel 8 informa sobre o marco final dos tempos cronológicos (igual ao Juízo de Deus, após "duas mil e trezentas tardes e manhãs"), Daniel 9 informa ao leitor o seu marco inicial, as 70 Semanas. Qualquer interpretação séria desses períodos cronológicos de Daniel deve tomar em conta essas informações do texto e suas implicações. A interpretação tradicional adventista do sétimo dia tem tentado ser fiel a estes dados textuais e tem podido verificar na história a precisão da palavra profética:

1) Marco inicial (Setenta Semanas): 457 a.C. – Decreto de Artaxerxes (Esdras 7). "Desde a saída da ordem para restaurar e edificar Jerusalém..." (Dn 9:25).

2) Período de supremacia da "Assolação Desoladora":
a) Início dos 1290 dias/anos em 508 d. C.: Vitória dos Francos sobre os Visigodos (arianos). Clóvis, rei dos Francos, envia a Roma uma coroa para ser colocada sobre a cabeça do Papa.
b) Início dos 1260 dias/anos em 538 d. C.: Roma é liberta das mãos dos ostrogodos, última potência ariana na Europa, o Papa se estabelece como a autoridade e governante supremo sobre toda a Europa.
c) Fim dos 1290 e 1260 dias/anos em 1798 d. C.: O Papa foi deposto, aprisionado e exilado pelo exército francês.

3) Período de intervalo entre o final da supremacia da "Assolação Desoladora" e o Início do Juízo: 45 dias/anos (45 anos), ou seja, de 1798 a 1843/1844.

4) Marco final (o fim da "2300 tardes e manhãs"): 1844 d. C., 2300 anos após o decreto de Artaxerxes.


Reinaldo W. Siqueira, Ph.D.

Fonte: Revista Teológica Parousia, Ano 1, Nº 2, p. 61-66.

(Veja também o gráfico dos períodos proféticos).

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