quinta-feira, janeiro 17, 2008

Ética individualista

O termo "individualista" tem uma conotaçāo negativa na nossa cultura... mas isso é completamente desmerecido. Para explicar a Ética Individualista, recorrerei ao bom e velho Friedrich A. Hayek, economista e filósofo austríaco, ganhador do Nobel de Economia de 74 e considerado por muitos (eu incluso) como um dos maiores pensadores liberais de todos os tempos e um dos gigantes intelectuais do século 20. No capítulo cinco do livro A Constituiçāo da Liberdade ("The Constitution of Liberty"), Hayek assim explica a relacāo entre o indivíduo, a liberdade e a sociedade:

"Liberdade nāo significa apenas que o indivíduo possui tanto a oportunidade quanto o fardo da escolha; também significa que ele deve arcar com as conseqüências de suas ações e será reconhecido ou responsabilizado por elas. Liberdade e responsabilidade são inseparáveis. Uma sociedade livre não funcionará, nem tampouco conseguirá manter-se, a menos que seus membros considerem correto que cada indivíduo ocupe o lugar nela que resulte de sua ação e o aceite como conseqüência desta."

Neste curto parágrafo, Hayek resume de forma brilhante os elementos fundamentais da Ética Individualista: liberdade para o indivíduo perseguir os objetivos que lhe bem aprouverem; responsabilidade do indivíduo pelos resultados derivados de suas ações, sejam eles positivos ou negativos; e estabelece que as relações entre os indivíduos são governadas pelo respeito de todos a esses princípios. Basicamente, a Ética Individualista diz que cada um de nós é responsável pela sua própria vida, e que culpar os outros, ou as circunstâncias (ou a "sociedade") pelos nossos problemas é errado, a menos que a influência desses outros elementos possa ser claramente e indiscutivelmente demonstrada.

É desnecessário comentar sobre como essa ética desagrada muitos. Ainda nos mesmos livro e capítulo, Hayek faz o seguinte comentário:

"Esta crença na responsabilidade individual, que sempre foi forte quando as pessoas firmemente acreditavam na liberdade individual, declinou de forma marcante, juntamente com o apreço pela liberdade. Responsabilidade tornou-se um conceito impopular, uma palavra que oradores e escritores experientes evitam devido à óbvia chateação e animosidade com que ela é recebida por uma geração que não aceita nenhum tipo de moralismo. Ela frequentemente evoca a mais aberta hostilidade de homens que foram ensinados que nada além de circunstâncias sobre as quais eles não têm controle algum determinam suas posições na vida ou mesmo suas ações. Essa negação da responsabilidade, contudo, é comumente originada pelo medo desta, um medo que necessariamente também torna-se medo da liberdade. É sem sombra de dúvida porque a oportunidade de construir a própria vida também significa um trabalho incessante, e a aceitação de uma disciplina que o homem deve auto impor-se para alcançar seus objetivos, que faz muitas pessoas terem medo da liberdade."

A aceitação da liberdade e da responsabilidade individuais como fundamentais e interligadas têm uma razão clara de ser: apenas indivíduos são capazes de raciocínio e, portanto, de ação racional. Quando tropeçamos em uma pedra, culpamos a pobre rocha pelo nosso dedão dolorido? Obviamente não (embora a tentação, às vezes, seja grande). Ela simplesmente estava lá. Incapaz de raciocínio e, portanto, de ação racional, ela não é culpada dos problemas que venha a causar. Quem é responsável é a pessoa que, ao não prestar atenção no caminho por onde ia, inadvertidamente tropeça nela. A pessoa é capaz de raciocínio, e portanto, de ação racional. Se não agiu de forma adequada diante do problema, a ela cabe o ônus da sua inação ou inépcia.

Isso também significa que apenas indivíduos podem ter responsabilidades e diretos. Coletividades de qualquer tipo nada mais são do que agremiações de pessoas. As pessoas que delas fazem parte têm direitos e responsabilidades, não o grupo em si. Coletivos não existem: eles não são fisicamente separados dos seus membros, não existem sem eles, e são incapazes de raciocínio e ação por si sós. Quando dizemos que um grupo ou entidade (como o Estado) age, na verdade estamos nos referindo às ações de membros da coletividade em questão que, em nome desta, tomam ações usando de suas próprias capacidades individuais.

Com isso, definimos claramente que a origem de toda a atividade humana é o indivíduo. Ele é a origem de todo o valor para a sociedade. É do raciocínio e da ação individuais que emerge a atividade criadora do ser humano. E sobre o indivíduo, e não sobre o coletivo, que repousa a base da civilização...

É claro que na Ética Individualista as pessoas podem ser egoístas. Mas qual é o sistema ético em que isso não ocorre? O egoísmo é um elemento da psique humana, assim como o altruísmo, o amor, o ódio ou a cobiça. É por isso que o individualismo se pauta tanto pela liberdade do indivíduo para perseguir seus objetivos, como na responsabilidade de cada um pelos seus atos. Não podemos (e diria mais, não devemos) tentar impedir as pessoas de serem egoístas ou interesseiras; o que temos que fazer é garantir que elas sempre arquem com as conseqüências plenas das suas ações. Apenas a certeza de que as conseqüências (boas e ruins) dos seus atos recairão sobre o próprio indivíduo responsável levará as pessoas a refletir com responsabilidade sobre suas ações.

Fonte: Blog Livre Pensamento

Veja também: "Ética Coletivista" e "Filosofia da liberdade".

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