sexta-feira, agosto 06, 2010

Julgando o sábado em Colossenses 2:16

Este documento contem o mais completo e detalhado estudo acadêmico da frase bíblica “festas, lua nova ou sábado” em Colossenses 2:16. A maioria dos intérpretes tem argumentado que a seqüência indica festas anuais, celebrações mensais e o sábado do sétimo dia. Ron du Preez argumenta de maneira cuidadosa que o termo sábado não designa o sábado do sétimo dia nesta passagem, minando assim, seriamente, a tese prevalecente.
Dividido em duas seções principais, a parte um (capítulos 1-9) trata de assuntos de linguagem e contexto, e a segunda fornece mais evidência técnica para apoiar as conclusões tiradas. No primeiro capítulo, du Preez examina a literatura e conclui que Colossenses 2:16 tem sido usado através da história cristã para argumentar que o sábado do sétimo dia foi revogado. Isto determina sua agenda exegética. É verdade que o termo hebreu para sábado (sabbat) nunca designa os sábados cerimoniais? O autor aborda isso no capítulo 2. Ele estuda as 111 ocorrências da palavra sabbat no Antigo Testamento e observa que dessas, 94 designam o sábado do sétimo dia e 19 designam algo mais. Ele distingue esses dois grupos de textos por prestar atenção particular nos marcadores sintáticos e lingüísticos, então, ele conclui que o termo é usado para referir-se à semana, ao Dia da Expiação e aos anos sabáticos.
Du Preez também examina, no capítulo 3, o uso da terminologia do sábado na Septuaginta, particularmente o processamento da frase hebraica sabbat sabbaton usado para designar o Dia da Expiação e os anos sabáticos. O argumento em questão indica que a Septuaginta nunca usou o simples termo sábado para designar os sábados cerimoniais. Du Preez demonstra que a frase sabbat sabbaton é apenas uma vez traduzida como sabbata sabbaton na versão grega. Em todos os outros casos é usado o termo sabbata. Consequentemente, sabbata é usado para os sábados cerimoniais.
A discussão move-se para o Novo Testamento e a forma como o autor usa o singular sabbaton e o plural sabbata (usado em Cl 2:16). Ele conclui que os termos sabbaton e sabbata são usados para designar o sábado do sétimo dia, um único sábado do sétimo dia, uma “semana”, e “sábados” do sétimo dia. Du Preez argumenta que isto não é tão diferente do uso de sabbata na Septuaginta, onde designa o sábado do sétimo dia, sábados do sétimo dia, e sábados cerimoniais, tais como o Dia da Expiação e os anos sabáticos. Estas conclusões estão baseadas no uso de marcadores específicos no Novo Testamento que o ajudou a identificar casos onde sabbata se refere ao sábado do sétimo dia ou a algo mais (por exemplo, o sábado do sétimo dia é acompanhado por artigo definido, o verbo guardar, a palavra dia, e assim por diante). Sempre que sabbata designa a semana, a palavra é acompanhada por um numeral indicador (por exemplo, “primeiro dia da semana”. Em Colossenses 2:16, sabbata não está acompanhada por nenhum desses marcadores específicos.
Du Preez volta à Bíblia Hebraica para examinar a conexão entre sabbata e os sábados cerimoniais. Ele confirma que em Levítico 23:32c o sabbat hebraico se refere ao Dia da Expiação e é traduzido para o grego como sabbata. O mesmo uso do singular é encontrado no caso dos anos sabáticos. Ele também ressalta que a Festa das Trombetas também é designada na Septuaginta com o singular sabbaton. A conclusão reafirmada é que o termo sabbata pode designar sábados cerimoniais.
No capítulo 6, o autor aborda a questão da seqüência do calendário: festas, lua nova e sábado. Ele reconhece que em algumas seqüências de calendário encontradas na Bíblia Hebraica o termo sábado designa o sábado do sétimo dia. Mas ele observa que em todos esses casos nós temos uma seqüência de quatro partes, e não de três partes como em Colossenses 2:16, e que em nenhum deles a seqüência é anual, mensal e semanal. Além disso, em todas essas passagens, o que está sendo discutido não é a observância de dias religiosos específicos mas os sacrifícios oferecidos durante aqueles dias. Conclui-se que aquelas passagens não devem ser usadas para esclarecer o significado de Colossenses 2:16. Apenas em Oséias 2:11 nós encontramos a mesma seqüência.
Du Preez rejeita o argumento que os sábados cerimoniais estejam incluídos no termo festas (capítulo 7). Ele estuda o uso do termo hebraico chag (festa) e conclui, como muitos outros estudiosos, que designa a Páscoa, o Pentecoste e a Festa dos Tabernáculos. A Septuaginta usa o termo heorte (festa), encontrado em Colossenses 2:16 para traduzir o hebraico chag. Ele sempre designa as mesmas três festas e nunca é aplicado ao Dia da Expiação ou à Festa das Trombetas, os quais eram sábados cerimoniais. Este uso, de acordo com du Preez, continua no Novo Testamento onde heorte designa a Festa da Páscoa, a Festa dos Pães Asmos, e a Festa dos Tabernáculos. Baseado no uso bíblico deste termo, argumenta-se que em Colossenses 2:16 heorte designa estas três festas de peregrinos.
Baseado em seus estudos lingüísticos anteriores, ele argumenta que na mesma passagem o termo sabbata se refere ao Dia da Expiação, à Festa das Trombetas, e aos anos sabáticos. As conclusões anteriores estão apoiadas no fato de que o termo sombra (Cl 2:17) é usado para referir-se às festas, luas novas e sábados (capítulo 8). Na Bíblia Hebraica,o Sábado não era uma sombra de coisas que viriam, mas estava instituído na Criação. A referência [de sombra] é aos serviços do cerimonial Mosaico os quais apontavam para a obra do Messias.
A segunda parte do livro concentra-se principalmente nos detalhes lingüísticos e no estudo contextual de Oséias 2:11. Ele conclui que o termo festas designa as três festas de peregrinos, as luas novas são celebrações mensais, e uma vez que o termo sábado não é acompanhado de nenhum marcador lingüístico que o identificaria com o sábado do sétimo dia, o termo designa os sábados cerimoniais. O autor aponta para o pronome pessoal usado em Oséias – “seus” sábados, em lugar de “meu” sábado.
Ele finalmente argumenta que em ambos, Oséias e Colossenses, nós provavelmente temos um paralelismo invertido intensificado: festas – três festas anuais; lua nova – cerimônia mensal; e sábados – três sábados rituais conectados com o ano.
Este importante estudo sobre uma passagem muito debatida merece atenção cuidadosa de qualquer um interessado na questão do sábado. Du Preez demonstrou além de qualquer dúvida razoável que em Colossenses 2:16 Paulo não estava tratando do sábado do sétimo dia. Nem todos os argumentos podem parecer persuasivos, mas permanece o fato de que o pressuposto que a frase “festas, luas novas ou sábados” em Colossenses designa todas as festas anuais, as celebrações mensais e o sábado do sétimo dia, está em séria necessidade de revisão, ou ainda melhor, de demissão.

Dr. Ángel Manuel Rodríguez
Diretor do Instituto de Pesquisas Bíblicas
Silver Spring, Maryland, EUA


Fonte: Ministry (Novembro/2009), p. 26 e 27.

6 comentários:

Unknown disse...

Gostaria de parabenizar o autor por este artigo,e dizer que quando lidamos com o assunto do sabado é muito importante falar sobra isto, que nem tudo que lemos sobre o sabado é o dia santo de DEUS mas sim dias serimoniais,gostaria de saber se tem este livro em portuques se não tiver por favor me mande mas informações.Meu nome é tarcisio reis sou adventista do setimo dia e um defensor do sabado.

Unknown disse...

Muito obrigado e fique com DEUS.

Pr. Sérgio Santeli ssanteli@br.inter.net disse...

Tarcísio:

Ainda não há tradução em português desse livro. Essa resenha já oferece algumas informações úteis para esclarecer o texto...

A. G. Brito disse...

Tenho examinado esse assunto e diria que a referida passagem traz dificuldades para todos--para os observadores do sábado, os observadores do domingo e os adeptos do que eu chamo dianenhumismo/diaqualquerismo.

Pedro bem comentou que Paulo escreveu "coisas difíceis de entender" que gente muitas vezes má intencionada torce, como é o caso do que se empenham em transformar tanto Paulo quanto até Jesus em agentes do anti-sabatismo.

Mas há algumas considerações a respeito. Bacchiocchi rompe com a tradição adventista e de outros autores evangélicos (como Adam Clarke, Albert Barnes, Jamieson, Fausset e Brown) de que esses "sábados" seriam cerimoniais. Ele admite que seriam os sábados semanais, acentuando que por toda a epístola de Colossenses jamais há menção à palavra "lei". Ele alega que Paulo não poderia estar falando de abolição da lei cerimonial, pois o termo "escrito de dívidas", no grego cheirographon, trata de um documento contendo as acusações contra um réu num tribunal. Pelo contexto, o que Paulo diz é que Cristo aboliu esse "escrito de dívidas", não por ter abolido lei nenhuma, e sim abolido a condenação desse documento que "era contra nós". A lei nunca é apresentada na Bíblia como contra nós.

Certo comentarista independente também chama a atenção ao fato de que no vs. 17, onde aparece "o corpo é de Cristo", o 'é' não aparece no original (daí que em muitas Bíblias vem em itálico, que indica isso).

Seria, então, "o corpo de Cristo". Daí, entende que isso se refere à Igreja (ver Efé. 4:12), que é a única que teria direito de julgar as práticas dos crentes de Colossos, não os extremistas locais, cheios de regras de "não toques, não proves, não manuseies" (vs. 21).

Afinal, o vs. 18 em traduções mais precisas diz: "Ninguém se faça de árbitro contra vós".

São ponderações também úteis para se buscar entender um texto reconhecidamente de difícil entendimento.

Abraços

A. G. Brito disse...

Olá, irmãos

Gostaria de saber se têm o texto do Pr. Angel Rodriguez no original em inglês. Gostaria de obtê-lo para postar o assunto num fórum americano onde o tema tem sido discutido. Boa parte dos participantes de dito fórum são ex-adventistas, vejam só. . .

Abraços e feliz semana a todos

Pr. Sérgio Santeli ssanteli@br.inter.net disse...

Prezado A. G. Brito:

O texto original desta resenha você encontra aqui:

http://www.ministrymagazine.org/archive/2009/November/judging-the-sabbath.html