Este documento contem o mais completo e detalhado estudo acadêmico da frase bíblica “festas, lua nova ou sábado” em Colossenses 2:16. A maioria dos intérpretes tem argumentado que a seqüência indica festas anuais, celebrações mensais e o sábado do sétimo dia. Ron du Preez argumenta de maneira cuidadosa que o termo sábado não designa o sábado do sétimo dia nesta passagem, minando assim, seriamente, a tese prevalecente.
Dividido em duas seções principais, a parte um (capítulos 1-9) trata de assuntos de linguagem e contexto, e a segunda fornece mais evidência técnica para apoiar as conclusões tiradas. No primeiro capítulo, du Preez examina a literatura e conclui que Colossenses 2:16 tem sido usado através da história cristã para argumentar que o sábado do sétimo dia foi revogado. Isto determina sua agenda exegética. É verdade que o termo hebreu para sábado (sabbat) nunca designa os sábados cerimoniais? O autor aborda isso no capítulo 2. Ele estuda as 111 ocorrências da palavra sabbat no Antigo Testamento e observa que dessas, 94 designam o sábado do sétimo dia e 19 designam algo mais. Ele distingue esses dois grupos de textos por prestar atenção particular nos marcadores sintáticos e lingüísticos, então, ele conclui que o termo é usado para referir-se à semana, ao Dia da Expiação e aos anos sabáticos.
Du Preez também examina, no capítulo 3, o uso da terminologia do sábado na Septuaginta, particularmente o processamento da frase hebraica sabbat sabbaton usado para designar o Dia da Expiação e os anos sabáticos. O argumento em questão indica que a Septuaginta nunca usou o simples termo sábado para designar os sábados cerimoniais. Du Preez demonstra que a frase sabbat sabbaton é apenas uma vez traduzida como sabbata sabbaton na versão grega. Em todos os outros casos é usado o termo sabbata. Consequentemente, sabbata é usado para os sábados cerimoniais.
A discussão move-se para o Novo Testamento e a forma como o autor usa o singular sabbaton e o plural sabbata (usado em Cl 2:16). Ele conclui que os termos sabbaton e sabbata são usados para designar o sábado do sétimo dia, um único sábado do sétimo dia, uma “semana”, e “sábados” do sétimo dia. Du Preez argumenta que isto não é tão diferente do uso de sabbata na Septuaginta, onde designa o sábado do sétimo dia, sábados do sétimo dia, e sábados cerimoniais, tais como o Dia da Expiação e os anos sabáticos. Estas conclusões estão baseadas no uso de marcadores específicos no Novo Testamento que o ajudou a identificar casos onde sabbata se refere ao sábado do sétimo dia ou a algo mais (por exemplo, o sábado do sétimo dia é acompanhado por artigo definido, o verbo guardar, a palavra dia, e assim por diante). Sempre que sabbata designa a semana, a palavra é acompanhada por um numeral indicador (por exemplo, “primeiro dia da semana”. Em Colossenses 2:16, sabbata não está acompanhada por nenhum desses marcadores específicos.
Du Preez volta à Bíblia Hebraica para examinar a conexão entre sabbata e os sábados cerimoniais. Ele confirma que em Levítico 23:32c o sabbat hebraico se refere ao Dia da Expiação e é traduzido para o grego como sabbata. O mesmo uso do singular é encontrado no caso dos anos sabáticos. Ele também ressalta que a Festa das Trombetas também é designada na Septuaginta com o singular sabbaton. A conclusão reafirmada é que o termo sabbata pode designar sábados cerimoniais.
No capítulo 6, o autor aborda a questão da seqüência do calendário: festas, lua nova e sábado. Ele reconhece que em algumas seqüências de calendário encontradas na Bíblia Hebraica o termo sábado designa o sábado do sétimo dia. Mas ele observa que em todos esses casos nós temos uma seqüência de quatro partes, e não de três partes como em Colossenses 2:16, e que em nenhum deles a seqüência é anual, mensal e semanal. Além disso, em todas essas passagens, o que está sendo discutido não é a observância de dias religiosos específicos mas os sacrifícios oferecidos durante aqueles dias. Conclui-se que aquelas passagens não devem ser usadas para esclarecer o significado de Colossenses 2:16. Apenas em Oséias 2:11 nós encontramos a mesma seqüência.
Du Preez rejeita o argumento que os sábados cerimoniais estejam incluídos no termo festas (capítulo 7). Ele estuda o uso do termo hebraico chag (festa) e conclui, como muitos outros estudiosos, que designa a Páscoa, o Pentecoste e a Festa dos Tabernáculos. A Septuaginta usa o termo heorte (festa), encontrado em Colossenses 2:16 para traduzir o hebraico chag. Ele sempre designa as mesmas três festas e nunca é aplicado ao Dia da Expiação ou à Festa das Trombetas, os quais eram sábados cerimoniais. Este uso, de acordo com du Preez, continua no Novo Testamento onde heorte designa a Festa da Páscoa, a Festa dos Pães Asmos, e a Festa dos Tabernáculos. Baseado no uso bíblico deste termo, argumenta-se que em Colossenses 2:16 heorte designa estas três festas de peregrinos.
Baseado em seus estudos lingüísticos anteriores, ele argumenta que na mesma passagem o termo sabbata se refere ao Dia da Expiação, à Festa das Trombetas, e aos anos sabáticos. As conclusões anteriores estão apoiadas no fato de que o termo sombra (Cl 2:17) é usado para referir-se às festas, luas novas e sábados (capítulo 8). Na Bíblia Hebraica,o Sábado não era uma sombra de coisas que viriam, mas estava instituído na Criação. A referência [de sombra] é aos serviços do cerimonial Mosaico os quais apontavam para a obra do Messias.
A segunda parte do livro concentra-se principalmente nos detalhes lingüísticos e no estudo contextual de Oséias 2:11. Ele conclui que o termo festas designa as três festas de peregrinos, as luas novas são celebrações mensais, e uma vez que o termo sábado não é acompanhado de nenhum marcador lingüístico que o identificaria com o sábado do sétimo dia, o termo designa os sábados cerimoniais. O autor aponta para o pronome pessoal usado em Oséias – “seus” sábados, em lugar de “meu” sábado.
Ele finalmente argumenta que em ambos, Oséias e Colossenses, nós provavelmente temos um paralelismo invertido intensificado: festas – três festas anuais; lua nova – cerimônia mensal; e sábados – três sábados rituais conectados com o ano.
Este importante estudo sobre uma passagem muito debatida merece atenção cuidadosa de qualquer um interessado na questão do sábado. Du Preez demonstrou além de qualquer dúvida razoável que em Colossenses 2:16 Paulo não estava tratando do sábado do sétimo dia. Nem todos os argumentos podem parecer persuasivos, mas permanece o fato de que o pressuposto que a frase “festas, luas novas ou sábados” em Colossenses designa todas as festas anuais, as celebrações mensais e o sábado do sétimo dia, está em séria necessidade de revisão, ou ainda melhor, de demissão.
Dr. Ángel Manuel Rodríguez
Diretor do Instituto de Pesquisas Bíblicas
Silver Spring, Maryland, EUA
Fonte: Ministry (Novembro/2009), p. 26 e 27.
6 comentários:
Gostaria de parabenizar o autor por este artigo,e dizer que quando lidamos com o assunto do sabado é muito importante falar sobra isto, que nem tudo que lemos sobre o sabado é o dia santo de DEUS mas sim dias serimoniais,gostaria de saber se tem este livro em portuques se não tiver por favor me mande mas informações.Meu nome é tarcisio reis sou adventista do setimo dia e um defensor do sabado.
Muito obrigado e fique com DEUS.
Tarcísio:
Ainda não há tradução em português desse livro. Essa resenha já oferece algumas informações úteis para esclarecer o texto...
Tenho examinado esse assunto e diria que a referida passagem traz dificuldades para todos--para os observadores do sábado, os observadores do domingo e os adeptos do que eu chamo dianenhumismo/diaqualquerismo.
Pedro bem comentou que Paulo escreveu "coisas difíceis de entender" que gente muitas vezes má intencionada torce, como é o caso do que se empenham em transformar tanto Paulo quanto até Jesus em agentes do anti-sabatismo.
Mas há algumas considerações a respeito. Bacchiocchi rompe com a tradição adventista e de outros autores evangélicos (como Adam Clarke, Albert Barnes, Jamieson, Fausset e Brown) de que esses "sábados" seriam cerimoniais. Ele admite que seriam os sábados semanais, acentuando que por toda a epístola de Colossenses jamais há menção à palavra "lei". Ele alega que Paulo não poderia estar falando de abolição da lei cerimonial, pois o termo "escrito de dívidas", no grego cheirographon, trata de um documento contendo as acusações contra um réu num tribunal. Pelo contexto, o que Paulo diz é que Cristo aboliu esse "escrito de dívidas", não por ter abolido lei nenhuma, e sim abolido a condenação desse documento que "era contra nós". A lei nunca é apresentada na Bíblia como contra nós.
Certo comentarista independente também chama a atenção ao fato de que no vs. 17, onde aparece "o corpo é de Cristo", o 'é' não aparece no original (daí que em muitas Bíblias vem em itálico, que indica isso).
Seria, então, "o corpo de Cristo". Daí, entende que isso se refere à Igreja (ver Efé. 4:12), que é a única que teria direito de julgar as práticas dos crentes de Colossos, não os extremistas locais, cheios de regras de "não toques, não proves, não manuseies" (vs. 21).
Afinal, o vs. 18 em traduções mais precisas diz: "Ninguém se faça de árbitro contra vós".
São ponderações também úteis para se buscar entender um texto reconhecidamente de difícil entendimento.
Abraços
Olá, irmãos
Gostaria de saber se têm o texto do Pr. Angel Rodriguez no original em inglês. Gostaria de obtê-lo para postar o assunto num fórum americano onde o tema tem sido discutido. Boa parte dos participantes de dito fórum são ex-adventistas, vejam só. . .
Abraços e feliz semana a todos
Prezado A. G. Brito:
O texto original desta resenha você encontra aqui:
http://www.ministrymagazine.org/archive/2009/November/judging-the-sabbath.html
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