sexta-feira, setembro 14, 2012

Liberdade versus Fé

À margem de todas as opiniões a respeito do filme ofensivo ao profeta Maomé, à margem da condenação à violência em resposta a ele, inaceitável para qualquer pessoa civilizada, à margem da presença de extremistas entre os manifestantes, eventualmente ligados à Al Qaeda, fica de todo modo um ponto que é central nessa história toda e que ilustra a dificuldade de convivência entre islamitas e ocidentais, especialmente norte-americanos.

Refiro-me ao conflito entre a fé e a liberdade de expressão, cláusula pétrea da Constituição dos Estados Unidos, entre outros países do Ocidente.

Antes, um intervalo para deixar claro que sou totalmente contra essa ideia de "conflito de civilizações" posta em voga por Samuel Huttington. Não creio que diferenças de pontos de vista representem um conflito. Ao contrário, podem enriquecer o debate e levar os dois lados a aprender algo um do outro. É só não ser hidrófobo.

Mas voltemos ao leito principal. Para ilustrar a questão liberdade x fé, tomo a frase de um islamita e líder de um país de maioria muçulmana, mas democrata, o primeiro-ministro turco Recep Tayyip Erdogan.

Ele condenou os ataques às embaixadas norte-americanas com o argumento de que "insultos à religião não podem justificar o ataque a pessoas". Até aí acredito, talvez ingenuamente, que haja um certo consenso, excluídos os fanáticos de um lado e de outro.

Mas Erdogan acrescenta: "Insultar os sagrados valores do Islã e o profeta Maomé não é aceitável sob a alegação de liberdade de expressão. Insultar religiões, profetas e os valores sagrados do povo não podem ser vistos como liberdade de pensamento e de crítica".

Aí chega-se ao impasse. A secretária norte-americana de Estado, Hillary Clinton, embora tenha chamado o filme que provocou o incêndio de "disgusting", escandindo as letras, deixou claro que, mesmo assim, ele estava coberto pelo respeito à liberdade de expressão.
Tem-se, então, um conflito insuperável entre o que pensam os islamitas, mesmo moderados, e os liberais norte-americanos?

Não necessariamente. Um leitor me chamou a atenção, a propósito de coluna anterior, para o fato de que a Suprema Corte norte-americana aceita, sim, uma limitação à liberdade de expressão cristalizada na Primeira Emenda à Constituição, se houver o que o jargão jurídico chama de "crimes de ódio".

O leitor tem razão. Houve uma decisão (no caso R.A.V. x City of St. Paul) em que a Corte decidiu que "não estava coberto pela liberdade de expressão o caso de uma pessoa que queimara uma cruz dentro do jardim de uma família negra" (ato similar aos que o grupo racista Klu Klux Klan praticava).

Queimar a cruz não é equiparável a ofender Maomé? Eu acho que sim, mas também acho que, se o governo norte-americano, para apaziguar os ânimos, decidisse processar os autores do filme, como pedem Erdogan e outros dirigentes muçulmanos, acabaria por jogar mais lenha ao fogo. O processo tardaria, os advogados usariam mil estratagemas, tratariam de levar o Islã também a julgamento, enfim seria um espetáculo de mídia que só prolongaria a polêmica e, com ela, as manifestações.

Tudo somado, o problema acaba sendo menos de liberdade de expressão, suscetível, como se viu, a limites, mas de velocidade de difusão de opiniões, palavras e imagens - quanto mais incendiárias, mais difundidas. Para isso, não há remédio.

Clóvis Rossi

(Folha de São Paulo)

NOTA: A escalada dos conflitos no Oriente Médio opondo países muçulmanos à Israel e ao Ocidente teve origem logo após a Segunda Guerra Mundial, em um plano diabolicamente elaborado para culminar com o choque de civilizações (Oriente Médio versus Ocidente/Israel) e a Terceira Guerra Mundial. O Vaticano, mediante seus agentes infiltrados (jesuítas, cavaleiros de malta, cavaleiros de colombo, Opus Dei...), tomaram os EUA sorrateiramente e o moldaram à sua imagem e semelhança. Nesse ínterim surgiriam conceitos religiosos e políticos  como a "teologia do domínio" e o sionismo cristão (dispensacionalismo), que empurrariam os norte-americanos em direção ao Oriente Médio para defender o Estado de Israel. O mundo está se aproximando do seu fim, e Deus continua esperando aqueles que quiserem aceitar Seu convite: "Quem crer e for batizado será salvo"...

Nenhum comentário: