O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, ao declarar tempos atrás que o aborto não é uma questão religiosa, e sim de saúde pública, reavivou o debate sobre a questão. A declaração é importante porque, a rigor, estabelece um limite para a invocação de razões religiosas no debate público, tema recorrente nesta Folha. Talvez seja, de fato, mais conveniente discutir sobre o aborto sem os padres na sala. Mas seria essa uma opção pluralista?
Há dois pontos de vista básicos sobre a origem da vida. Ou ela é fruto do acaso e consiste numa força cega, sem significado e propósito, que saiu do nada e vai para lugar nenhum, resultado de infinitas mutações que se desenvolvem a partir de uma forma absolutamente primária etc. etc., ou resulta de um ato de criação de um ser inteligente e, por causa disso, tem significado, propósito etc. etc.
Os dois pontos de vista são indemonstráveis. A vantagem do primeiro -a visão secular- consiste no fato de que sua argumentação, ainda que indemonstrada, é puramente naturalista e se ajusta ao método científico. Uso a expressão naturalista, que me parece melhor do que materialista, para nomear a visão de que a natureza é tudo o que existe, em contraposição àquela que concebe a existência de uma realidade sobrenatural.
Armand M. Nicholi Jr., professor de psiquiatria na Universidade Harvard (EUA), destaca em sua última obra que Freud dividia a humanidade em duas classes: os que crêem em Deus e os que não crêem. As visões de mundo de uns e de outros são radicalmente diferentes.
Entender, por um lado, que a vida é sagrada, por ser dom de Deus, ou, por outro, que é um acidente natural a que o homem empresta valor conforme suas condições culturais, evidentemente, estabelecerá radical distinção nos valores de quem crê numa ou noutra hipótese. E como o Estado laico se posiciona em relação a isso? Não se posiciona. Deixa ambos com seus pontos de vista e não toma partido. Estado laico não significa uma opção oficial pelo ponto de vista exclusivamente naturalista do mundo, mas uma opção por não se meter na discussão, concedendo liberdade a quem crê e a quem não crê.
Vale lembrar o texto da primeira emenda da Constituição norte-americana, a primeira a regular a questão: "O Congresso não aprovará nenhuma lei relativa ao estabelecimento de religião ou que proíba seu livre exercício". Estado laico é aquele que está proibido de tomar partido em matéria de religião. Isso, obviamente, não impede ninguém de expor sua posição na arena pública fundado em suas convicções (ainda que religiosas). Nenhuma regra impede o religioso de invocar suas razões numa discussão oficial, especialmente se o objeto da controvérsia girar em torno de valores, campo em que a ciência é muda e o naturalismo nada tem a dizer.
Dizer que as razões que se apóiam numa convicção religiosa se contrapõem ao Estado laico é torcer a regra e, a rigor, subordinar a visão de mundo do religioso à secular, arbitrariamente. Se a argumentação de um religioso objetiva proteger um valor tutelado pelo direito, não importa que invoque uma razão espiritual para se definir nessa posição.
Não importa por quê? Porque o tema é levado ao debate e pode ser contestado por quem pensa de modo diferente. Não há obscurantismo quando se tem a honestidade de defender um valor protegido pelo direito com base numa visão de mundo não secular e se está aberto ao dissenso. O que gera o obscurantismo não é a fé, mas a proibição do dissenso, falha na qual incorrem muitos ao invocar o Estado laico para, em discussões oficiais, fechar a boca de quem crê em Deus. A imposição de silêncio ao religioso significa que o Estado o estaria obrigando a se posicionar sempre -e exclusivamente- a partir de postulados materialistas -tão metafísicos quanto os não materialistas- que violam sua convicção. O materialismo filosófico não é a única linguagem autorizada pelo Estado.
No fundo, o problema é outro: há no pensamento secular, ainda que não assumida, a convicção de que a fé é um perigo obscurantista que devemos banir do nosso meio o quanto antes, sob pena de restaurarmos a idade das trevas. Bobagem.
A história mostra que, para ser fanático, não é preciso ser religioso e que o obscurantismo não é fruto do fato de o sujeito crer em Deus e na existência de uma realidade sobrenatural. Hitler, Mao, Stálin etc. não criam em nada disso. Obscurantismo é a proibição do dissenso.
JOÃO HELIOFAR DE JESUS VILLAR - procurador da República da 4ª Região.
Fonte: Folha de São Paulo, 06 de novembro de 2007.
(Colaboração: Blog Michelson Borges)
Um comentário:
Ó cristão que se tem por sábio, atenta os seus ouvidos para tamanho favor dessa revelação, que nunca jamais existirá algo semelhante, cale-se toda boca diante de tamanha revelação não ousemos nesse dia proferir blasfemas ao prometido de Deus para esse tempo:
“Dentro em breve”, proclamam as próprias palavras de Bahá’u’lláh, “se deixará de lado a presente Ordem, e uma nova será estendida em seu lugar. Verdadeiramente, teu Senhor diz a verdade, é o Conhecedor de coisas jamais vistas”. “Por Mim Próprio”, assevera Ele solenemente, “aproxima-se o dia em que nós teremos posto de lado o mundo e tudo o que nele está e estendido em seu lugar uma nova Ordem. Ele, em verdade, tem poder sobre todas as coisas”. “O equilíbrio do mundo”, explica Ele, “foi perturbado pela influência vibrante desta Mais Grandiosa Ordem, desta Nova Ordem Mundial. A vida ordenada do gênero humano foi revolucionada através deste Sistema incomparável, maravilhoso, cujo igual jamais foi visto por olhos mortais”. “Os sinais de caos e convulsões iminentes”, assim Ele adverte aos povos do mundo – “podem agora ser discernidos desde que a Ordem prevalecente parece ser lamentavelmente defeituosa”. Ordem esse que recebera o seu Santo Nome e implantará no ápices dos corações a sua marca. Tão grande é essa revelação que ao promuniciar o seu nome a Nova economia mundial se movimentará, tão grande é essa revelação que o sinal de Deus unificará a humanidade. Cada número da letra de seu nome são como números emanados do mais puro mel que movimenta a nova ordem mundial.
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