Não haverá fumaça branca para avisar ao mundo que ele foi eleito, mas outro tipo de conclave secreto começou na segunda-feira em Roma - o que vai escolher o novo líder mundial dos jesuítas, conhecido como "o papa negro".
Numa sede jesuíta a um quarteirão do Vaticano, 225 delegados de todo o mundo vão escolher o novo superior da maior e talvez mais influente, prestigiosa e polêmica ordem clerical católica. O líder jesuíta é chamado de "papa negro" devido à cor do manto simples que usa e por causa da sua autoridade mundial e habitualmente vitalícia - a exemplo do papa, que se veste de branco.
Mas a congregação-geral (nome oficial do encontro) neste ano será diferente. O atual superior-geral, padre Peter-Hans Kolvenbach, 79 anos [foto], recebeu do papa Bento 16 autorização para se aposentar devido à idade avançada.
Kolvenbach, um holandês de fala mansa, cabelo branco e cavanhaque, está no cargo desde 1983, guiando os jesuítas por um dos períodos mais difíceis dos seus 468 anos de história. O carismático antecessor dele, o basco Pedro Arrupe, teve vários atritos com o papa anterior, João Paulo 2o, para quem a ordem havia se tornado independente, politizada e esquerdista demais, especialmente na América Latina.
Quando Arrupe sofreu um derrame, no começo da década de 1980, João Paulo 2o apontou um representante pessoal para dirigir a ordem e impedir que ela se tornasse ainda mais esquerdista. Para alguns jesuítas, aquele foi um período sob "lei marcial pontifícia".
Kolvenbach, por sua vez, teve o mérito de restabelecer as boas relações com o Vaticano nestes 25 anos, e ao mesmo tempo lidou com questões como o declínio nas vocações religiosas na ordem fundada em 1540 por santo Inácio de Loyola e que teve o padre José de Anchieta entre seus membros.
Na década de 1960, a Sociedade de Jesus (seu nome oficial) viveu seu auge, com cerca de 36 mil integrantes, todos homens. Agora são 19,2 mil, envolvidos principalmente em educação, auxílio a refugiados e outros serviços sociais.
A eleição do sucessor de Kolvenbach deve ocorrer em meados do mês, após vários dias de orações murmuradas, pedindo orientação para a escolha - período chamado em latim de "murmuratio".
Embora as campanhas eleitorais sejam proibidíssimas - os delegados devem "entregar" quem desejar abertamente o posto - alguns nomes já circularam entre a imprensa religiosa. Um dos favoritos é o padre indiano Lisbert D'Sousa. Muitos jesuítas dizem que já é hora de o posto ser ocupado por alguém dos países em desenvolvimento.
A eleição é por voto secreto. Os participantes só podem deixar o recinto depois que o resultado for comunicado ao papa Bento 16 - mantendo a secular tradição segundo a qual o "papa branco" é o primeiro a saber quem é o "papa negro".
Fonte: Estadão Online, O Globo Online
NOTA: É a primeira vez que vejo uma agência de notícias (no caso, Reuters) confirmar o título de "papa negro" para o general dos jesuítas. Até agora, só conhecia esse fato através de livros. Essa ordem foi criada como exército para proteger o Vaticano, se necessário fosse, até mesmo do Papa. Mas, o pior de tudo dentro da Companhia de Jesus é a terrível filosofia que seguem: "Os fins justificam os meios"...
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